Fernando Pessoa – “O menino da sua mãe”
15.01.2012
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
Duas de lado a lado
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
e cego os céus perdidos.
Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
“o menino da sua mãe”
Caiu lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lha a mãe.
Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embaínhada
De um lenço…
Dera-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há prece:
“Que volte cedo e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.
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