Pablo Neruda – “Na sua chama mortal…”
10.01.2012
Na sua chama mortal te envolve a luz.
Absorta, pálida dolente, assim postada
contra as velhas hélices do crepúsculo
que em torno de ti dá voltas.
Muda, minha amiga,
sozinha na solidão desta hora de mortes
e cheia das vidas do fogo,
herdeira pura do dia destruído.
Do sol desabam uvas no teu vestido escuro.
Da noite as grandes raízes
crescem de súbito da tua alma,
e ao exterior regressam as coisas em ti ocultas,
de modo que um povo pálido e azul
de ti recém-nascido se alimenta.
Ó grandiosa e fecunda e magnética escrava
do círculo que em negro e doirado acontece:
erguida, tenta e alcança uma criação tão viva
que morrem suas flores, e cheia é de tristeza.
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