Comentário de Otília Martel (Menina Marota)

17.01.2008

O “Diário de um Louco”, não é um tema fácil. Aliás o próprio estado emocional do personagem principal, inspira a dado momento, um tal sentimento pelo seu sofrimento, que nos enche a alma de intensidade.
Ler pois, Nikolai Gógol o autor de “Taras Bulba”, um dos romances que mais gostei, de sua autoria, não é fácil.
Confesso que cheguei a arrepiar-me, ao ouvir a intensidade de determinadas passagens, tal o realismo e convicção, que o Luís Gaspar imprime a cada momento.
E recordei uma passagem do próprio Gógol:

“Eu considero inteligente o homem que em vez de desprezar este ou aquele semelhante é capaz de o examinar com olhar penetrante, de lhe sondar por assim dizer a alma e descobrir o que se encontra em todos os seus desvãos. Tudo no homem se transforma com grande rapidez; num abrir e fechar de olhos, um terrível verme pode corroer-lhe as entranhas e devorar-lhe toda a sua substância vital. Muitas vezes uma paixão, grande ou mesquinha pouco importa, nasce e cresce num indivíduo para melhor sorte, obrigando-o a esquecer os mais sagrados deveres, a procurar em ínfimas bagatelas a grandeza e a santidade. As paixões humanas não têm conta, são tantas, tantas, como as areias do mar, e todas, as mais vis como as mais nobres, começam por ser escravas do homem para depois o tiranizarem.
Bem-aventurado aquele que, entre todas as paixões, escolhe a mais nobre: a sua felicidade aumenta de hora a hora, de minuto a minuto, e cada vez penetra mais no ilimitado paraíso da sua alma. Mas existem paixões cuja escolha não depende do homem: nascem com ele e não há força bastante para as repelir. Uma vontade superior as dirige, têm em si um poder de sedução que dura toda a vida. Desempenham neste mundo um importante papel: quer tragam consigo as trevas, quer as envolva uma auréola luminosa, são destinadas, umas e outras, a contribuir misteriosamente para o bem do homem.” Nicolau Gógol, In “Almas Mortas”.

O Luís Gaspar conseguiu, através da sua leitura, transportar-me exactamente aos sentimentos que Gógol tão bem sublinha, neste seu texto.
Porque eles estão ali bem visíveis, na sensibilidade de cada um de nós, numa leitura que nos coloca, em cada situação, em cada local, em cada expressão!
O realismo da interpretação, a dor, o espanto, o delírio psicótico, a comiseração que o personagem dá a si próprio, está bem patente, nesta interpretação magnífica.
Felicito-te Luís, pelo desafio, pela iniciativa, pelo esforço e por esta admirável escolha e partilha.
Estamos todos de parabéns pela oportunidade, de ouvirmos esta excelente obra.
Um abraço carinhoso e aguardo a próxima leitura…
Otília Martel (Menina Marota)

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