Comentário de Manuel Anastácio

17.01.2008

Olá, Luís:

Tenho tido muito pouco tempo para ler e para ouvir. A burocracia que
nos afoga é cada vez maior e subverte o próprio significado do que
seja ser professor. Por mim, bem preferia estar com os alunos, a
trabalhar com eles em actividades que os enriquecessem, sem a chata
obrigação das aulas, do que estar às voltas com documentos de
secretaria e com estatísticas parolas para analisar em casa. Mas o
Ministério da Educação gosta de ver os professores ocupados, sem se
preocuparem com o quê. O que interessa é vê-los, a esses parasitas da
Sociedade, ocupados. Porque os professores passaram, nos últimos
tempos, a serem parasitas a abater. Seja. Os tempos assim decidiram.
Lá virá o tempo em que voltará a ser considerada uma das mais dignas
profissões. Mas vou deixar-me de queixas.
Espero que tenhas umas óptimas férias. Mas, enquanto ia fazendo coisas
que puxavam menos pelo meu pensamento, dei-me ao luxo de colocar os
programas em atraso a correr no computador – e valeu a pena. A forma
como leste “A Aia” foi simplesmente encantadora, cheia de um certo
estilo declamatório de sabor serôdio que se ajustou na perfeição ao
texto, como se ingressássemos numa soirée queirosiana ou, quiçá,
proustiana. O programa sobre Adília Lopes foi, igualmente, maravilhoso
e vem, justamente, relembrar uma voz que se tornou conhecida pelos
piores caminhos da fama. A tua leitura da sereia das pernas tortas não
poderia ter sido melhor. Música pura.
Muito me agradou, igualmente, encontrar o Henrique Fialho no Lugar aos
outros – e fiquei um pouco triste comigo mesmo por não ter sido eu a
propor o nome. Fizeste uma óptima escolha. Devo ainda ressaltar que a
escolha da música também é cada vez mais adequada ao teor de cada
texto.
Não quero parecer demasiado laudatório – até porque sabes bem que sou
crítico em relação às coisas que aprecio. Vou fazer como nos mandas:
vou ouvir os outros programas e dar-me-ei ao desplante de te criticar
a respeito de programas mais antigos, se assim se justificar.

Abraço grande do amigo:
Manuel Anastácio

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