Comentário de Luís Pinto

17.01.2008

Irene Lisboa passou-me completamente “ao largo” aquando da aprendizagem abreviada de autores das nossas letras.
Quando eu entrei na escola para a então chamada “instrução primária”, tinha Irene os seus 42 anos e já respeitada inspectora orientadora do ensino infantil. Diz a biografia da minha estante “… cargo que se diz foi afastada pelas suas ideias avançadas nesta área”.
Não seria caso para menos para quem colaborou na “Presença”, “Seara Nova”, “O Diabo” e a “Vértice”, nomes sonantes, recheados de grandes intelectuais cuja sombra, convém lembrar, fazia “cócegas” ao Estado Novo.
Por curiosidade peguei no meu livro de 3ª classe, faço-lhe uma “leitura em diagonal” e, sem menosprezar a selecta dos textos (prosa e poesia) são estes reveladores da então doutrina do ensino em Portugal; “A Caridade”, “O Povo Português”, “A Joaninha” “O Chefe do Estado”, “Salazar”, “As Cores da Bandeira Nacional”, “A Procissão”, e umas trinta páginas sobre “Doutrina Cristã”, dividida em capítulos sendo que, no fim de cada, depara-se um questionário do qual transcrevo apenas esta pergunta/resposta:
P. – Quais são os últimos fins da nossa vida?
R . – Os últimos fins da nossa vida são: a Morte, o Juízo e o Inferno ou o Paraíso para sempre.
Numa terceira classe a criança tinha os seus 10 anos.
Hoje, com esta idade, a criança tem o seu computador…
Por isso volto a insistir; o teu “Palavras de Ouro” deve, cada vez mais, dar luz aos autores de reconhecido valor mas também – e principalmente – os de grande coragem que lutaram contra a imbecilidade com as armas das letras.
Nos nossos dias tomar uma posição é extraordinariamente fácil. Qualquer um pode escrever o que quiser.
Luís Pinto

Facebooktwittermailby feather
349349