Comentário de Luís Pinto

17.01.2008

Palavras de Ouro 116 (Luís Pacheco).
Agradeço-te a homenagem.
Ouvi um abrir de alma sem estereótipos.
São aquelas palavras, livres, espontâneas, cruas, realistas, que fazem do “escritor maldito” (como já alguém ousou dizer), um anarquista duma beleza impar.
Viveu tudo o que todos gostariam de viver; se o não fizeram foi por lhes faltar a coragem de se assumirem como gente liberta de preconceitos que as educações seculares nos orientam desde o berço.
Pacheco foi o que foi. Passou por tudo; por todas as fantasias do sexo (Ferreira de Castro, no seu livro a Selva, descreve ter tido relações com uma égua), pela enxovia de quartos com cheiro a vulvas, esperma e excrementos, pela alegria de renascer em cada ressaca de fortes bebedeiras, pelo inconformismo da hipócrita vida social.
Foi livre, simplesmente livre. E essa liberdade tão arredia dos cânones, deu-lhe o direito de nos olhar através duma análise translúcida onde qualquer de nós se pode sentir retratado.
Assumiu-se sempre como foi.
Que digo eu?
Assumiu-se? Ele era ele. Desconhecia o convencionalismo do “assumir”.
Do grande escritor (agora chamado por Deus para grande alegria dos católicos) vai ficar a imagem do bêbado, do imbecil proscrito, do pedófilo, do proxeneta, do cabrão, do “filho de puta”, de tudo o que lhe quiserem apelidar.
Mas nunca a simplicidade dum homem que se desnuda à frente de todos sempre resignado, sem um queixume, apenas a verdade que, para muitos, é difícil ler e muito menos ouvir.
Perdeu-se um grande escritor, que escrevia arduamente por uns tostões que lhe dessem o mínimo para uns copos onde afogava a agonia da sua vida. A vida que quis ter.
Fiquemos com a imagem das letras e das palavras ditas.
Por mim, será sempre recordado com alegria democrática.
Luís Pinto.

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