Nota biográfica

Francisco José Tenreiro, foi um geógrafo e poeta são-tomense. Foi docente no Instituto de Ciências Sociais e Política Ultramarina, atual Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. (Wikipédia)

Francisco José Tenreiro – “Corpo Moreno”

09.02.2016 | Produção e voz: Luís Gaspar

morena

Se eu dissesse que o teu corpo moreno
tem o ritmo da cobra preta deslizando
mentia.
Mentia se comparasse o teu rosto fruto
ao das estátuas adormecidas das velhas civilizações de África
de olhos rasgados em sonhos de luar
e boca em segredos de amor.

Como a minha Ilha é o teu corpo mulato
tronco forte que dá
amorosamente ramos, folhas, flores e frutos e há frutos
na geografia de teu corpo.

Teu rosto de fruto
olhos oblíquos de safú
boca fresca de framboesa silvestre
és tu.

És tu minha Ilha e minha Africa
forte e desdenhosa dos que te falam à volta.

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Francisco José Tenreiro – “Canção do mestiço”

22.01.2016 | Produção e voz: Luís Gaspar

valdemar_doria
(Pintura de Valdemar Dória)

Mestiço!


Nasci do negro e do branco
e quem olhar para mim
é como quem olhasse
para um tabuleiro de xadrez:
a vista passando depressa
fica baralhando cor
no olho alumbrado de quem me vê.

Mestiço!

E tenho no peito uma alma grande
uma alma feita de adição
como 1 e 1 são 2.
Foi por isso que um dia
o branco cheio de raiva
contou os dedos das mãos
fez uma tabuada e falou grosso
mestiço!
a tua conta está errada.
Teu lugar é ao pé do negro.


Ah!
Mas eu não me danei…
E muito calminho
arrepanhei o meu cabelo para trás
fiz saltar fumo do meu cigarro
cantei do alto
a minha gargalhada livre
que encheu o branco de calor!…

Mestiço!

Quando amo a branca
sou branco…

Quando amo a negra
sou negro…

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