Nota biográfica

Álvaro de Castro e Sousa Correia Feijó (Viana do Castelo, 5 de Julho de 1916 - Coimbra, 9 de Março de 1941) tendo falecido de cancro quando ainda não completara os vinte e cinco anos de idade. Fez os estudos secundários no colégio dos jesuítas de La Guardia, na vizinha Galiza, inscrevendo-se seguidamente na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.

Álvaro Feijó – “Os dois sonetos de amor da hora triste”

09.06.2014 | Produção e voz: Luís Gaspar

hora-triste

I
Quando eu morrer – e hei-de morrer primeiro 

do que tu – não deixes fechar-me os olhos 

meu Amor. Continua a espelhar-te nos meus olhos

e ver-te-ás de corpo inteiro

como quando sorrias no meu colo.

E, ao veres que tenho toda a tua imagem 

dentro de mim, se, então, tiveres coragem 

fecha-me os olhos com um beijo.

Eu, Marco Pólo,

farei a nebulosa travessia

e o rastro da minha barca 

segui-lo-ás em pensamento. Abarca

nele o mar inteiro, o porto, a ria…

E, se me vires chegar ao cais dos céus,

ver-me-ás, debruçado sobre as ondas, 

para dizer-te adeus

II
Não um adeus distante

ou um adeus de quem não torna cá,

nem espera tornar. Um adeus de até já,

como a alguém que se espera a cada instante.

Que eu voltarei. Eu sei que hei-de voltar

de novo para ti, no mesmo barco 

sem remos e sem velas, pelo charco 

azul do céu, cansado de lá estar.

E viverei em ti como um eflúvio, uma recordação.

E não quero que chores para fora,

Amor, que tu bem sabes que quem chora

assim, mente. E se quiseres partir e o coração

to peça, diz-mo. A travessia é longa… Não atino

talvez na rota. Que nos importa, aos dois, ir sem destino?

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