Nota biográfica

Eugénio de Castro e Almeida (Coimbra, 4 de março de 1869 — 17 de agosto de 1944) foi um escritor português. Por volta de 1889 formou-se em Letras pela Universidade de Coimbra e mais tarde veio a leccionar nessa faculdade.

Eugénio de Castro – “Clepsidra”

22.09.2017 | Produção e voz: Luís Gaspar

Murmúrio de água na clepsidra gotejante,
Lentas gotas de som no relógio da torre,
Fio de areia na ampulheta vigilante,
Leve sombra azulando a pedra do quadrante,
Assim se escoa a hora, assim se vive e morre…

Homem, que fazes tu? Para quê tanta lida,
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça?
Procuremos somente a Beleza, que a vida
É um punhado infantil de areia ressequida,
Um som de água ou de bronze e uma sombra que passa…

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Camilo Pessanha – “Quem poluiu”

09.07.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar

Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho,
Onde esperei morrer, — meus tão castos lençóis? Do
meu jardim exíguo os altos girassóis Quem foi que os
arrancou e lançou no caminho?

Quem quebrou (que furor cruel e simiesco!) A
mesa de eu cear, — tábua tosca de pinho? E me
espalhou a lenha? E me entornou o vinho? — Da
minha vinha o vinho acidulado e fresco…

O minha pobre mãe!… Não te ergas mais da cova,
Olha a noite, olha o vento. Em ruína a casa nova…
Dos meus ossos o lume a extinguir-se breve.

Não venhas mais ao lar. Não vagabundes mais.
Alma da minha mãe… Não andes mais à neve,
De noite a mendigar às portas dos casais.

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