“Peregrinação” – Fernão Mendes Pinto
01.12.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar
A primeira página de grandes obras da literatura.
01.12.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar
Fernão Mendes Pinto, na “Peregrinaçã” (publicada postumamente em 1614) deixou-nos um relato tão fantástico do que viveu, que durante muito tempo não se acreditou na sua veracidade; de tal modo que até se fazia um jocoso dito com o seu nome: Fernão Mendes Minto, ou então ainda: Fernão, mentes? Minto! Esta ideia de que o que contava era demasiado fantasioso para poder ter-lhe realmente acontecido parte do princípio que se pode julgar um texto do séc. XVI com os critérios de hoje, mas na verdade o texto é uma inestimável fonte de informação para conhecermos o que sucedia aos navegadores e aventureiros que iam a caminho do extremo-oriente nas caravelas portuguesas, mesmo que nem todas essas coisas tenham acontecido realmente a Fernão Mendes Pinto e que ele tenha compilado alguns relatos que ouviu durante a sua vida de aventuras.
Quando às vezes ponho diante dos olhos os muitos e grandes trabalhos e infortúnios que por mim passaram, começados no princípio da minha primeira idade, e continuados pela maior parte e melhor tempo da minha vida, acho que com muita razão me posso queixar da ventura que parece que tomou por particular tenção e empresa sua perseguir-me e maltratar-me, como se isso lhe houvera de ser matéria de grande nome, e de grande glória: porque vejo que não contente de me pôr na minha pátria, logo no começo da minha mocidade, em tal estado, que nela vivi sempre em misérias e em pobreza, e não sem alguns sobressaltos e perigos da vida, me quis também levar às partes da índia, onde em lugar do remédio que eu ia buscar a elas, me foram crescendo com a idade os trabalhos e os perigos.
Mas por outra parte quando vejo que, do meio de todos estes perigos e trabalhos, me quis Deus tirar sempre em salvo, e pôr-me em seguro, acho que não tenho tanta razão de me queixar por todos os males passados, quanta de lhe dar graças por este só bem presente, pois me quis conservar a vida, para que eu pudesse fazer esta rude e tosca escritura, que por herança deixo a meus filhos (porque só para eles é minha tenção escrevê-la) para que eles vejam nela estes meus trabalhos, e perigos da vida que passei no discurso de vinte e um anos, em que fui treze vezes cativo, e dezassete vendido, nas partes da índia, Etiópia, Arábia Feliz, China, Tartária, Macáçar, Samatra, e outras muitas províncias daquele oriental arquipélago dos confins da Ásia, a que os escritores Chins, Siamês, Gueus e Léquios nomeiam nas suas geografias por pestana do mundo, como ao diante espero tratar muito particular e muito difusamente, e daqui por uma parte tomem os homens motivo de se não desanimarem com os trabalhos da vida, para deixarem de fazer o que devem, porque não há nenhuns, por grandes que sejam, com que não possa a natureza humana ajudada do favor divino, e por outra me ajudem a dar graças ao Senhor omnipotente, por usar comigo da sua infinita misericórdia, apesar de todos os meus pecados, porque eu entendo e confesso que deles me nasceram todos os males que por mim passaram, e dela as forças, e o ânimo para os poder passar, e escapar deles com vida.
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17.08.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar
O Estúdio Raposa apresentou, durante 11 capítulos uma versão reduzida da “Peregrinação” de Fernão Mendes Pinto de autoria de Aquilino
Ribeiro. Aquilino fê-lo a pedido de Sá da Costa, o famoso editor, num projecto de divulgação de obras famosas entra as quais “As Viagens de Guliver”, “A Eneida”, “A História trágico-marítima, “A Odisseia” e “Os Lusíadas”. Estas obras foram recentemente re-editadas pelo “Expresso”.
Aquilino Ribeiro não se limitou a proceder à adaptação: escreveu um texto sobre Fernão Mendes Pinto, trabalho que vamos ouvir de seguida.
A produção foi do Estúdio Raposa, sonorização e leitra de Luís Gaspar.
Este trabalho não envolveu quaisquer interesses económicos e destina-se, apenas, à divulgação dos nossos clássicos.
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12.08.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar
Tinha dado uma hora depois da meia-noite quando avistámos no adro do pagode grande, jazigo dos reis, fogos, muitos fogos, que pareciam caminhar e fazer sinal uns aos outros. Nós estávamos ancorados um tiro de falcão a distância da ilha, e perguntámos aos chins o que poderia significar aquilo. Responderam eles que nos haviam sentido com toda a certeza e, portanto, o mais aconselhável era fazermo-nos à vela sem mais detença.
Audiolivro produzido pelo Estúdio Raposa e lido por Luís Gaspar. Adaptação de Aquilino Ribeiro.
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05.08.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar
Uma vez na enseada de Nanquim aconselhou Similau que, para não alvoroçar os chins que não estavam habituados a ver ali gente estrangeira, por coisa alguma deste mundo nos mostrássemos. De resto, estava indicado navegarmos pelo meio da baía, se queríamos evitar as lorchas e lanteas que em grande número singravam rentee à costa. E assim se fez.
Adaptação de Aquilino Ribeiro, produção do Estúdio Raposa e leitura de Luís Gaspar
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27.07.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar
Curaram-se os feridos, enterraram-se os mortos, e havendo levado a noite com boa vigia, acautelados dos juncos que estavam no porto, mal rompeu a manhã, passámos à outra banda do rio. Fomos desembarcar a certa povoação, muito abastecida de tudo, que os moradores haviam desamparado. E, na dúvida de que os portos se nos fechassem depois do que ali se passara, António de Faria abarrotou os Juncos de provisões.
Adaptação de Aquilino Ribeiro, produção do Estúdio Raposa, leitura de Luís Gaspar.
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21.07.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar
Vinte e quatro dias, durante os quais convalesceram os feridos, nos demorámos no rio de Tinlau. Partimos, em seguida, para invernar em Liampó, mas no caminho à altura da ponta de Micuí, fomos apanhados por um temporal de grossos chuveiros e mares procelosos, tão medonho, que as embarcações da nossa pequena armada se perderam logo da vista umas das outras.
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13.07.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar
Por conselho de Quiay Panjão, que Amónio de Faria sempre prezou, fomos ancorar a Chincheu, onde tivemos a sorte de topar cinco naus da nossa gente que nos informaram do que era mester. Uma anunciada frota da China, de quatrocentas velas e cem mil homens de guerra, nada tinha que ver, afinal, com os Portugueses. Em Liampó o comércio continuava a fazer-se como dantes, em boa paz e liberdade.
(…)
Adaptação de Aquilino Ribeiro. Produção do Estúdio Raposa. Leitura de Luís Gaspar
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06.07.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar
Sete meses e meio eram decorridos depois que nos baldeávamos nesta enseada da Cochinchina. de rio para rio, de porto para porto, de norte a sul e inversa, sem notícias do fantástico pirata. E, um belo dia, os soldados, enfadados com vida assim errante e inquieta, juntaram-se a requerer de António de Faria o quinhão que lhes competia segundo o estipulado, pois queriam voltar para a índia ou para onde muito bem lhes apetecesse.
Adaptação de Aquilino Ribeiro. Produção do Estúdio Raposa. Voz de Luís Gaspar.
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23.06.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar
“Chegados pela tarde à boca do rio de Tanauquir, fora de horas para deitarmos até a cidade, que ficava distante cinco léguas, assentou-se esperar ali a manhã. Os pescadores de pérolas tinham-nos aconselhado a que procurássemos este porto, se nos queríamos descartar da fazenda, e o nosso empenho, por agora, não era outro. As embarcações vinham, com efeito, pejadas, que não só o andamento sofria, mas força nos era de ir com a sonda sempre em punho, por causa dos recifes que abundam nesta costa, tão dilatados que abrangem léguas, tão à flor das águas que mal se veem.”
Adaptação de Aquilino Ribeiro. Produção do Estúdio Raposa. Leitura de Luís Gaspar.
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16.06.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar
Adaptação de Aquilino Ribeiro da obra de Fernão Mendes Pinto, “Peregrinação”.
Produção do Estúdio Raposa, leitura de Luís Gaspar.
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08.06.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar
Obra clássica da literatura Portuguesa, numa adaptação de Aquilino Ribeiro.
Produção do Estúdio Raposa com leitura de Luís Gaspar. Este trabalho é composto por 12 Capítulos.
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01.06.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar
“Peregrinação” de Fernão Mendes Pinto segundo a adaptação de Aquilino Ribeiro – 1º Episódio
Diz Aquilino Ribeiro nas palavras preliminares da sua adaptação da “Peregrinação”:
“Formoso livro de aventuras, como não há segundo na língua portuguesa é a “Peregrinação” de Fernão Mendes Pinto. O autor, depois de andar vinte anos pela Ásia, soldado, negociante, pedinte, embaixador, cortesão, jesuíta, pirata, “treze vezes cativo, dezassete vendido, pega na pena e escreve. Escreve na sua casinha do Pragal, frente ao Tejo, pobre e desiludido, saudoso dos bons e aventurosos tempos e, ao largo dos acontecimentos, é provável que a memória, senão fantasia, falseie o pormenor. Mas, em geral, palpita no que nos conta a mais viva das realidades.”
Produção de Estúdio Raposa. Leitura de Luís Gaspar.
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