Carlos Conde – “Conceito”
07.10.2014 | Produção e voz: Luís Gaspar
CARLOS CONDE (1901 - 1981). A história do fado veio a consagrá-lo como destacado poeta popular, autor de inúmeros repertórios de fados e textos de cegadas, musicados ao longo das décadas de 20 e 30 do século passado.
07.10.2014 | Produção e voz: Luís Gaspar
Quando eles não valem nada
Não se ganha em discutir
Não é bom servir de escada
Para qualquer asno subir
Há gente que só diz mal
Para se impor, para ser notada
Quem discute menos vale
Quando eles não valem nada
E quem pouco valor tem
Só se vinga em deprimir
O desprezo chega bem
Não se ganha em discutir
Quem maldiz por ser ruim
Nunca vence a caminhada
A nulidades assim
Não é bom servir de escada
Quem vence de fronte erguida
Não se dispõe a servir
Como ponto de partida
Para qualquer asno subir
(Este poema foi cantado, em fado, por Alfredo Marceneiro)
Podcast (estudio-raposa-audiocast): Download
08.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Cheia de penas
Cheia de penas me deito
E com mais penas
Com mais penas me levanto
No meu peito
Já me ficou no meu peito
Este jeito
O jeito de te querer tanto
Desespero
Tenho por meu desespero
Dentro de mim
Dentro de mim um castigo
Não te quero
Eu digo que não te quero
E de noite
De noite sonho contigo
Se considero
Que um dia hei-de morrer
No desespero
Que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile
Estendo o meu xaile no chão
Estendo o meu xaile
E deixo-me adormecer
Se eu soubesse
Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias
Tu me havias de chorar
Uma lágrima
Por uma lágrima tua
Que alegria
Me deixaria matar
Podcast (estudio-raposa-audiocast): Download
08.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Silêncio
Do silêncio faço um grito
E o corpo todo me dói
Deixai-me chorar um pouco
De sombra a sombra
Há um céu tão recolhido
De sombra a sombra
Já lhe perdi o sentido
Ó céu
Aqui me falta a luz
Aqui me falta uma estrela
Chora-se mais
Quando se vive atrás d’ ela
E eu
A quem o céu esqueceu
Sou a que o mundo perdeu
Só choro agora
Que quem morre já não chora
Solidão
Que nem mesmo essa é inteira
Há sempre uma companheira
Uma profunda amargura
Ai solidão
Quem fora escorpião
Ai solidão
E se mordera a cabeça
Adeus
Já fui p’r’além da vida
Do que já fui tenho sede
Sou sombra triste
Encostada a uma parede
Adeus
Vida que tanto duras
Vem morte que tanto tardas
Ai como dói
A solidão quase loucura
08.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Foi por vontade de Deus
Que eu vivo nesta ansiedade
Que todos os ais são meus
Que é toda minha a saudade
Foi por vontade de Deus
Que estranha forma de vida
Tem este meu coração
Vive de vida perdida
Quem lhe daria o condão
Que estranha forma de vida
Coração independente
Coração que não comando Vives perdido entre a gente Teimosamente sangrando Coração independente
Eu não te acompanho mais Pára deixa de bater
Se não sabes onde vais Porque teimas em correr
Eu não te acompanho mais
Podcast: Download
Podcast (estudio-raposa-audiocast): Download
07.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Música triste
desenganado
canto nocturno
a pouco e pouco
vai penetrando
meu coração
Nocturna prece
ou pesadelo
não sei que sombra
aquele canto
em mim deixou.
Febre ou cansaço?
Não sei! Nem quero.
lúgubre pranto
de roucas vozes
não tem beleza
– só emoção.
É como um eco
de noites mortas
de vidas gastas
ao deus dará.
Mas eu o recebo
dentro de mim.
Entendo. Choro.
Eu o recebo
Como um irmão.
Podcast (estudio-raposa-audiocast): Download