“Linha para um retrato…”, poema de Eduíno de Jesus.
19.11.2021 | Produção e voz: Luís Gaspar
Eduíno de Jesus (Arrifes, Ponta Delgada, ilha de São Miguel, 18 de Janeiro de 1928 ) é um poeta e intelectual dos Açores. Desenvolveu em Portugal expressiva actividade de divulgação da cultura açoriana sobretudo enquanto coordenador, por muitos anos, da secção cultural da Casa dos Açores de Lisboa.
19.11.2021 | Produção e voz: Luís Gaspar
Este poema é das saudades e do sol-posto.
E da procissão do Senhor, de colchas nas varandas.
E de quando eu tinha as mãos postas
que a minha mãe veio e me pôs umas asas brancas.
E das horas gastas esperando o teu regresso.
E das idas clandestinas e do caminho andado.
E da janela, aberta para os muros, que enchia
de sombras as recordações do meu quarto.
Este poema é dos vidros partidos
pelas pedras que atirei aos meus amigos
nos combates havidos nas travessas.
E da chuva que caiu nas colchas das varandas.
E das mãos que vieram tirar-me as asas brancas.
E dos olhos de minha mãe, quando eu parti para
longes terras…
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05.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Com as mãos
construo
a saudade do teu corpo,
onde havia
uma porta,
um jardim suspenso,
um rio,
um cavalo espantado à desfilada.
Com as mãos
descrevo o limiar,
os aromas subtis,
os largos estuários,
as crinas ardentes
fustigando-me o rosto,
a vertigem do apelo nocturno,
o susto.
Com as mãos procuro
(ainda) colher o tempo
de cada movimento do teu corpo
em seu voo.
E por fim destruo
todos os vestígios (com as mãos):
Brusca-
mente.
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