Orlando da Costa – “As mãos e as mãos”
10.12.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Nascido em Lourenço Marques, no seio de uma família goesa. Apoiou a candidatura de Norton de Matos e foi preso três vezes pela Pide (1950-1953). Da última vez, esteve preso por cinco meses, acusado de militar em defesa da paz. Passou pelo ensino particular até ser proibido de ensinar e trabalhou na publicidade.
10.12.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
A polpa secreta
Das tuas mãos
Espero-a inteira
Espero-a inteira
Como frutos à beira
Da fome de alguém
Espero-a inteira
Nesta fome que vem
Só das tuas para as minhas mãos
Minhas mãos geladas
Minhas mãos suadas
Em rebentos de cada esforço
Descarnadas mãos
De que já riu a ferrugem das grades
Minhas mãos abertas para que creias
Mãos suadas e novamente suadas
Mãos capazes de enxertar veias
A polpa secreta
Das tuas mãos
Espero-a inteira inteira
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15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Os nomes que dei às mãos
desenham-se tão perto de mim
que compreendo o desejo sem fantasmas.
Nos dedos principiam as marés
e neles se misturam o reflexo e a máscara
de regressos e errâncias por equacionar.
Os olhos não se fixam na geografia
visível das linhas. Os corpos deixam
de ser um cais. O mar estremece
nos ossos como um sismo.
O primeiro sinal de naufrágio
percebe-se na palma da mão
mesmo quando os barcos
passam ao largo do nosso desalento.
Rente à solidão.
Na trajectória do vazio
onde inventamos os sons.
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