Nota biográfica

Manuel António Pina (Sabugal, 18 de Novembro de 1943 – Porto, 19 de Outubro de 2012) foi um jornalista e escritor português, galardoado em 2011 com o Prémio Camões.

“Os Gatos”, poema de Manuel António Pina.

18.11.2021 | Produção e voz: Luís Gaspar

Há um deus único e secreto
em cada gato inconcreto
governando um mundo efémero
onde estamos de passagem
Um deus que nos hospeda
nos seus vastos aposentos
de nervos, ausências, pressentimentos,
e de longe nos observa
Somos intrusos, bárbaros amigáveis
e compassivo o deus
permite que o sirvamos
e a ilusão de que o tocamos

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Manuel António Pina – “Amor como em casa”

17.05.2017 | Produção e voz: Luís Gaspar

Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraidíssimo percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde no café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.

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Manuel António Pina – “A Eugénio de Andrade”

21.12.2015 | Produção e voz: Luís Gaspar

emerenciano

No sítio mais fundo
do teu nome
fala o que não se pode dizer.

Que ninguém chame pelo teu nome,
que ninguém acorde o teu nome que
dorme.

Porque é o nome do homem
e o do menino,
o da vítima e o do assassino.

Poema de Manuel António Pina, ilustração de Emerenciano, ambos retirados do livro “Aproximações a Eugénio de Andrade”, editado pela ASA com o patrocínio a BIAL, coordenação de José da Cruz Santos e Direção gráfica de Armando Alves.

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Manuel António Pina – “Todas as Palavras”

09.02.2015 | Produção e voz: Luís Gaspar

palavras13

TODAS AS PALAVRAS

As que procurei em vão,
principalmente as que estiveram muito perto,
como uma respiração,
e não reconheci,
ou desistiram e
partiram para sempre,
deixando no poema uma espécie de mágoa
como uma marca de água impresente;
as que (lembras-te?) não fui capaz de dizer-te
nem foram capazes de dizer-me;
as que calei por serem muito cedo,
e as que calei por serem muito tarde,
e agora, sem tempo, me ardem;
as que troquei por outras (como poderei
esquecê-las desprendendo-se longamente de mim?);
as que perdi, verbos e
substantivos de que
por um momento foi feito o mundo.
E também aquelas que ficaram,
por cansaço, por inércia, por acaso,
e com quem agora, como velhos amantes sem
desejo, desfio memórias,
as minhas últimas palavras.

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Manuel António Pina – “Sou o pássaro que canta…”

12.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Sou o pássaro que canta
dentro da tua cabeça
que canta na tua garganta
canta onde lhe apeteça

Sou o pássaro que voa
dentro do teu coração
e do de qualquer pessoa
mesmo as que julgas que não

Sou o pássaro da imaginação
que voa até na prisão
e canta por tudo e por nada
mesmo com a boca fechada

E esta é a canção sem razão
que não serva para mais nada
senão para ser cantada
quando os amigos se vão

E ficas de novo sozinho
na solidão que começa
apenas com o passarinho
dentro da tua cabeça.

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Décima sétima Hora

06.09.2011 | Produção e voz: Luís Gaspar

Durante um pouco mais de uma hora, poderá ouvir poesia de Adélia Prado, Almada Negreiros, António Gedeão, Lobo Antunes (2 poemas), Eugénio de Andrade, Fernando Pessoa (8 poemas), Álvaro de Campos, Ferreira Gullar, George Brasens, Herberto Helder, Joaquim Pessoa, José Régio, Manuel António Pina e Manuel da Fonseca.

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