Nota biográfica

Neste espaço ouvem-se poetas que apesar da qualidade do seu trabalho, por motivos diversos, acabaram por ser esquecidos ou pouco lembrados.

José Agostinho de Macedo – “Soneto”

06.07.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

José Agostinho de Macedo (Beja, 11 de Setembro de 1761 — Lisboa, 2 de Outubro de 1831) foi um escritor português. Escritor de estilo polêmico e agressivo, era adepto fervoroso do miguelismo. Escreveu sobre a maçonaria no livro Morais dos pedreiros livres e iluminados (1816).

Debaixo desta campa sepultado
Jaz um peito, um que etéreo fogo ardia,
Que da Lusa Eloquência, e da Poesia
Será por longos Evos lamentado.

Deixou à Pátria alto Padrão alçado,
Enfeitando co’ as flores a Harmonia
A austera fronte à sã Filosofia,
Com exemplo entre nós não praticado.

Não indagues, Viandante curioso,
Da larga vida sua erro, ou defeito,
Da Morte acata o manto tenebroso.

Ele Homem foi, Homem não há perfeito;
E, deixando este valer lacrimoso,
Foi piedade buscar de Deus no peito.

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Ana Cristina César – “Minha boca…”

06.07.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Ana Cristina César foi professora universitária, jornalista e poeta. Entre outros autores,traduziu Sylvia Plath.


Minha boca também

está seca

bebemos litros d’água

Brasília está tombada

iluminada

como o mundo real

pouso a mão no teu peito

mapa de navegação

desta varanda

hoje sou eu que

estou te livrando

da verdade

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João Penha – “A Carne”

21.05.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

João Penha (1838-1919) 
Poeta português, natural de Braga, também jurista e magistrado. Introduziu o parnasianismo em Portugal.

A CARNE
[A Cândido de Figueiredo]

Carne mimosa, carne cor de rosa
Nada mais sois, oh anjos, na poesia
Dos vates dissolutos de hoje em dia,
Nos romances de amor, hedionda prosa.

A vossa alma gentil, ideal, mimosa,
Nestas idades de descrença ímpia,
Como escondida, numa estátua fria
Sonha e não voa, de voar medrosa!

Anjos chorai o Amor! Com voz dolente
Dizei-lhe adeus! Bronco recife
Se apruma entre ele e vós, cruel, ingente:

Que par mais que de vinhos o borrife,
Ninguém gosta de ver, continuadamente,
Diante de si, fatal, o mesmo bife!

in “Novas Rimas”

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