Nota biográfica

Padre António Vieira (Lisboa, 6 de fevereiro de 1608 — Salvador (Bahia), 18 de julho de 1697) foi um religioso, escritor e orador português da Companhia de Jesus. Uma das mais influentes personagens do século XVII em termos de política e oratória, destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta qualidade, defendeu infatigavelmente os direitos humanos dos povos indígenas combatendo a sua exploração e escravização e fazendo a sua evangelização.

Padre António Vieira – “O estatuário”

12.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

(…)“…Arranca o estatuário uma pedra dessas montanhas, tosca, bruta, dura, informe e, depois que devastou o mais grosso, toma o maço e o cinzel na mão e começa a formar um homem; primeiro membro a membro, e depois feição por feição, até à mais miúda: ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos, afila-lhe o nariz, abre-lhe a boca, avulta-lhe as faces, torneia-lhe o pescoç o. estende-lhe os braços, espalma-lhe as mãos, divide-lhe os dedos, lança-lhe os vestidos; aqui desprega, ali arruga, acolá recama e fica um homem perfeito, talvez um santo, que se pode pôr no altar…”

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Padre António Vieira – “Guerra”

07.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

[Lisboa, 1608-1697]
SERMÃO HISTÓRICO E PANEGÍRICO
NOS ANOS DA RAINHA D. MARIA FRANCISCA DE SABÓIA
[EXCERTO]

[…] É a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come e consome, tanto menos se farta. É a guerra aquela tempestade terrestre que leva os campos, as casas, as vilas, as cidades, os castelos, e talvez em um momento sorve os reinos e monarquias inteiras. É a guerra aquela calamidade composta de todas as calamidades, em que não há mal algum que ou não se padeça ou não se tema, nem bem que seja próprio e seguro: – o pai não tem seguro o filho; o rico não tem segura a fazenda; o pobre não tem seguro o seu suor; o nobre não tem segura a sua honra; o eclesiástico não tem segura a imunidade; o religioso não tem segura a sua cela; e até Deus, nos templos e nos sacrários, não está seguro. […]

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