Luís Graça – “Semen de poeta…”

13.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Há quem derrame prosa como sémen
ignorando a tesão da Literatura
pois a criação é casta como a neve

A esses beijo apenas a inocência
de não saber mais do que o banal
e nunca ejacular mais do que sílabas

São milhões como um exército de larvas
e bebem cálices de orgulho e preconceito
no luar tenebroso das certezas

Sabei, senhores, e digo-vos de borla
escrever assim não é raiz do amanhã
é somente parir monstros sem cabeça

Vós padeceis de mal muito antigo
ignorais sem maldade e por desleixo
que Literatura é mais do que punheta

O sémen verdadeiro dos poetas
bebe-se às taças como manjar de semi deuses
e frutifica em arco íris de ternura.

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Luís Graça – “Meu falo…”

12.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Meu falo, touro
em ponta, desembolado
alfange, mouro, em ronda
sempre excitado

Eu calo, rouco
e tu zonza, nua num estrado
que range, pouco
numa onda, sodomizado

Meu halo, louco
é santo divinizado
abrange in loco e conta
que é castrado

Empalo, touro
meu falo, desembolado
alfange, mouro, em ronda
foi sepultado

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Luís Graça – “Afectos”

12.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Fiquei a saber num destes fins-de-tarde
que se podia estar subnutrido de ternura
e afoguei-me no desânimo que me acenava do horizonte
 
Caiu-me uma pérola húmida do olhar
pensei apenas em guardar em mim
a saudade das carícias tecidas em silêncio
 
Não foi possível, acendeste-me o desejo dos teus dedos
apetecia-me beijar-te como quem afaga um charuto com os lábios
vendo subir aos céus o fumo do teu cio
 
Fiquei a saber numa destas noites de lua cheia
que se podia estar subnutrido de ternura
caiu-me uma pérola húmida do olhar
 
Apesar dos lobisomens
não se poderem dar ao luxo de cultivar mágoas
nas plantações do estio que passa
 
Apenas lhes é concedido o grato subterfúgio
de uivar nas trevas como quem urde um poema
às escondidas de Deus
 
Fiquei a saber numa destas manhãs de trovoada
que o teu corpo era feito de raios e coriscos
e que os teus pais não te deixavam fazer amor sozinha
 
Por terem medo
dos teus gritos de prazer
na hora de te sentires mulher
 
Mesmo assim fazias amor sozinha
dispensando-me o teu corpo
em marés de luz
 
Fiquei a saber numa destas madrugadas de fogo
que a ternura está guardada num baú
disfarçado de cofre à prova de sentimentos
 
Nessa mesma hora
senti o meu ser
a dissolver-se devagar

Ao longe, muito ao longe
lembro-me de ter sentido um arrepio na alma
como se tivesses pintado o teu sorriso no meu peito
(Paxion)

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