Nota biográfica

Fernando Namora (Condeixa-a-Nova, 15 de Abril de 1919 - Lisboa, 31 de Janeiro de 1989) de nome completo Fernando Gonçalves Namora, médico e escritor português, autor de uma extensa obra que, durante os anos 70 e 80, foi das mais divulgadas e traduzidas.

“Poema para iludir a vida”, poema de Fernando Namora.

26.11.2021 | Produção e voz: Luís Gaspar

Tudo na vida está em esquecer o dia que passa.
Não importa que hoje seja qualquer coisa triste,
um cedro, areias, raízes,
ou asa de anjo
caída num paul.
O navio que passou além da barra
já não lembra a barra.
Tu o olhas nas estranhas águas que ele há-de sulcar
e nas estranhas gentes que o esperam em estranhos portos.

Hoje corre-te um rio dos olhos
e dos olhos arrancas limos e morcegos.
Ah, mas a tua vitória está em saber que não é hoje o fim

e que há certezas, firmes e belas,
que nem os olhos vesgos
podem negar.
Hoje é o dia de amanhã.

Fernando Namora, in “Mar de Sargaços”

Facebooktwittermailby feather

Fernando Namora – “Veio o estio, Cacilda”

19.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Chiar de bois,
milho amarelo,
suor na gente,
sestas na terra,
poços sem água,
os dias grandões!

Veio o estio, Cacilda!

Leva ao monte o almoço do teu home
e beija-lhe a testa suada
se ainda souberes!

Olha o campo doirado,
as espigas inchadas,
os pássaros no figo,
os moscardos no gado,
os meninos despidos!

Veio o estio, Cacilda!
Guarda o sono para o inverno
que é preciso encher o lar!

Facebooktwittermailby feather