Nota biográfica

Fernando Echevarría Ferreira, de nome literário Fernando Echevarría, poeta e escritor português, traduzido em francês, castelhano, inglês e romeno, nasceu em Cabezón de la Sal (Santander, Espanha) em 26 de fevereiro de 1929, filho de pai português.
Autor de uma vasta obra, morreu, aos 92 anos, no dia 4 de outubro de 2021, na cidade do Porto, onde residia.

“Lentos nos fomos esquecendo”, de Fernando Echevarría.

26.05.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar

Lentos nos fomos esquecendo. Quando
o tempo da velhice nos foi vindo
a tez apareceu amorenada de anos
e afeita ao espírito.
A lavoura sabia aos nossos passos.
Até os desperdícios
iluminavam debilmente o armário
e a penumbra dos rincões escritos.
Mas nós só estávamos
em nos havermos esquecido.
Ou, às vezes, a aura do trabalho
quase fazia com que na mesa o sítio
aparecesse coroado de anos
sobre a mão a mover-se pelo seu próprio espírito.

Fernando Echevarría, in “Figuras”

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“Vinham rosas na bruma florescida” de Fernando Echevarría.

07.10.2021 | Produção e voz: Luís Gaspar

Vinham rosas na bruma florescidas
rodear no teu nome a sua ausência.
E a si se coroavam, e tingiam
a apenas sombra da sua transparência.

Coroavam-se a si. Ou no teu nome
a mágoa que vestiam madrugava
até que a bruma dissipasse o bosque
e ambos surgissem só lugar de mágoa.

Mágoa não de antes ou de depois. Presente
sempre actual de cada bruma ou rosa,
relativos ou não no espelho ausente.

E ausente só porque, se não repousa,
é nome rodopio que, na mente,
em bruma a brisa em que se aviva a rosa.

Fernando Echevarría, in “Poesia 1956-1979”

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“Amor à vida” de Fernando Echevarría.

06.10.2021 | Produção e voz: Luís Gaspar

Entras como um punhal
até à minha vida.
Rasgas de estrelas e de sal
a carne da ferida.

Instala-te nas minas.
Dinamita e devora.
Porque quem assassinas
é um monstro de lágrimas que adora.

Dá-me um beijo ou a morte.
Anda. Avança.
Deixa lá a esperança
para quem a suporte.

Mas o mar e os montes…
isso, sim.
Não te amedrontes.
Atira-os sobre mim.

Atira-os de espada.
Porque ficas vencida
ou desta minha vida
não fica nada.

Mar e montes teus beijos, meu amor,
sobre os meus férreos dentes.
Mar e montes esperados com terror
de que te ausentes.

Mar e montes teus beijos, meu amor!…

Fernando Echevarría, in “Poesia 1956-1979”

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