Nota biográfica

Cristovam Pavia, ou Cristóvam Pavia, pseudónimo de Francisco António Lahmeyer Flores Bugalho (Lisboa, 7 de outubro de 1933 - Lisboa, 13 de outubro de 1968) foi um poeta português, oriundo de Castelo de Vide.

“Ao meu cão”, poema de Cristóvam Pavia.

28.09.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar

Deixei-te só , à hora de morrer.

Não percebi o desabrigado apelo dos teus olhos
Humaníssimos, suaves, sábios, cheios de
aceitação De tudo… e apesar disso, sem o pedir,
tentando Insinuar que eu ficasse perto,

Que, se me fosse, a mesma era a tua gratidão.

Não percebi a evidência de que ias morrer

E gostavas da minha companhia por uma noite,
Que te seria tão doce a minha simples presença
Só umas horas, poucas.

Não percebi, por minha grosseira incompreensão,
Não percebi, por tua mansidão e humildade,

Que já tinhas perdoado tudo à vida

E começavas a debater-te na maior angústia,

a debater-te

Com a morte.

E deixei-te só , à beira da agonia, tão
aflito, tão
só e

sossegado.

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Cristovam Pavia – “Na noite da minha morte…”

11.07.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar

Na noite da minha morte
Tudo voltará silenciosamente ao encanto antigo…
E os campos libertos enfim da sua mágoa
Serão tão surdos como o menino acabado de esquecer.

Na noite da minha morte
Ninguém sentirá o encanto antigo
Que voltou e anda no ar como um perfume…
Há-de haver velas pela casa
E chalés negros e um silêncio que eu
Poderia entender.

Mãe: talvez os teus olhos cansados de chorar
Vejam subitamente…
Talvez os teus ouvidos, só eles ouçam, no silêncio da casa velando,
Uma voz serena de infância, tão clara e tão longínqua…
E mesmo que não saibas de onde vem nem porque vem
Talvez só tu a não esqueças.

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