Nota biográfica

Alda Neves da Graça do Espírito Santo (São Tomé e Príncipe 1926 - 9 de Março de 2010), conhecida como Alda do Espírito Santo, foi uma escritora e poetisa de língua portuguesa. Quando São Tomé e Príncipe conseguiu a independência de Portugal em 1975, ela ocupou vários altos cargos no governo.

Alda Espírito Santo – “Lá no Água Grande”

27.01.2016 | Produção e voz: Luís Gaspar

alex_keller_fonseca
(Pintura de Alex Keller-Fonseca)

Lá no «Água Grande» a caminho da roça
negritas batem que batem co’a roupa na pedra.
Batem e cantam modinhas da terra.

Cantam e riem em riso de mofa
histórias contadas, arrastadas pelo vento.

Riem alto de rijo, com a roupa na pedra
e põem de branco a roupa lavada.

As crianças brincam e a água canta.
Brincam na água felizes…
Velam no capim um negrito pequenino.

E os gemidos cantados das negritas lá do rio
ficam mudos lá na hora do regresso…
Jazem quedos no regresso para a roça.

Facebooktwittermailby feather

Alda do Espírito Santo – “Para lá da praia”

26.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Baía morena da nossa terra
vem beijar os pezinhos agrestes
das nossas praias sedentas,
e canta, baía minha
os ventres inchados
da minha infância,
sonhos meus, ardentes
da minha gente pequena
lançada na areia
da praia morena
gemendo na areia
da Praia Gamboa.

Canta, criança minha
teu sonho gritante
na areia distante
da praia morena.

Teu tecto de andala (1)
à berma da praia
teu ninho deserto
em dias de feira,
mamã tua, menino
na luta da vida.

Gamã pixi (2) à cabeça
na faina do dia
maninho pequeno, no dorso ambulante
e tu, sonho meu, na areia morena
camisa rasgada,
no lote da vida,
na longa espera, duma perna inchada

Mamã caminhando p’ra venda do peixe
e tu, na canoa das águas marinhas
– Ai peixe à tardinha
na minha baía
mamã minha serena
na venda do peixe
pela luta da fome
da gente pequena.

(1) Andala: folha de palmeira;
(2) Gamã pixi: gamela com peixe.

Facebooktwittermailby feather