Nota biográfica >>

Rómulo Vasco da Gama de Carvalho (Lisboa, 24 de Novembro de 1906 - Lisboa, 19 de Fevereiro de 1997), português, foi um químico, professor de Físico-Química do ensino secundário no Liceu Pedro Nunes e Liceu Camões, pedagogo, investigador de História da ciência em Portugal, divulgador da ciência, e poeta sob o pseudónimo de António Gedeão. Pedra Filosofal e Lágrima de Preta são dois dos seus mais célebres poemas.

António Gedeão – “Declaração de Amor”

28.10.2013

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Excita-me a tua presença, ó Árvore – ó Árvores todas!

Desejo-te (desejo-vos) como se fosses Carne, e eu Desejo.

Como se eu fosse o vento que preside às tuas bodas,

e te cicia em redor, e te fecunda num aliciante beijo.
Ponho os olhos em ti e entretenho-me a pensar que sou mãos,

todo mãos que te envolvem o tronco e te sacodem convulsivamente.

Requebras-te com volúpia, e os teus emaranhados cabelos louçãos

fustigam o ar como látegos, com toda a força que este amor me consente.
Ó árvore minha débil! Ó prazer dos meus olhos extáticos!

Ó filtro da luz do Sol! Ó refresco dos sedentos!

Destila nos meus lábios as gotas dos teus ésteres aromáticos,

unge a minha epiderme com teus macios unguentos.
Desnuda-me a tua intimidade, ó Árvore! Diz-me a que segredos recorres

para te desenrolares em flores e em frutos num cíclico desvario.

Porque é que tudo morre à tua volta e tu não morres,

e aceitas sempre o Amor com renovado cio.
Inicia-me nos teus mistérios, ó feiticeira dos cabelos verdes!

Ensina-me a transformar um raio de Sol em suculenta carnadura,

e nesses perfumes subtis que a toda a hora perdes,

prolongando o teu ser no ar que te emoldura.
É através de ti, ó Árvore, que celebro os esponsais entre mim e a Natureza.

É através de ti que bebo a nuvem fresca e mordo a terra ardente.

É de ti que recebo as leis do Amor e da Beleza.

Amo-te, ó Árvore, apaixonadamente!

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