Nota biográfica >>

José Régio, pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, ( 1901 — 1969) foi um escritor português que viveu grande parte da sua vida na cidade de Portalegre. Foi possivelmente o único escritor em língua portuguesa a dominar com igual mestria todos os géneros literários: poeta, dramaturgo, romancista, novelista, contista, ensaísta, cronista, jornalista, crítico, autor de diário, memorialista, epistológrafo e historiador da literatura.

José Régio – “Adeus”

12.01.2012

Vai-te, que os meus abraços te magoaram,
E o meu amor não beija!, arde e devora.
Foram-se as flores do meu jardim.
Ficaram Raízes enterradas, braços fora …

Vai-te! O luar é para os outros; e os afagos
São para os outros … , os que ensaiam serenatas.
Já a lua que nos lagos bóia pérolas e pratas
Não nasce para mim, que estou sem lagos.

Quando me nasce, é como um reluzir da treva,
Um riso da escuridão,
Que na minh’alma ecoa, e que ma leva
Por lonjuras de frio e solidão …

Vai-te, como vão todos; e contentes, de libertos
Do peso de eu lhes não querer trautear mentiras.
Como serias tu, flébil flor de olhos de safiras,
Que me acompanharias nos desertos?

Vai-te! não me supliques que te minta!
Beijo-te os pés pelo que me oferecias.
Mas teu amor, e tu, e eu, e quanto eu sinta,
Que somos nós mais do que fantasias?

Sim, amor meu: em mim, teu amor era doce.
Premir na minha mão a concha nácar do teu seio
Era-me um bem suave enleio …
Era … – se o fosse.

Vai-te!, que eu fui chamado a conquistar
Os mundos que há nos fundos do meu nada.
Talvez depois reaprenda a inocência de amar …
Talvez … mas ai!, depois de que alvorada?

Porque até Lá, é longe, e é tão incerto,
Tão frio, tão sublime, tão abstracto, tão medonho …
Como dar-te a sonhar este sonho dum sonho?

– Vai-te! a tua casa é perto.

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