Nota biográfica >>

Carlos de Oliveira (Belém do Pará, 10 de agosto de 1921 — Lisboa, 1 de julho de 1981) foi um escritor português.

Carlos de Oliveira – “O fundo das águas”

09.01.2012

Adensam-se as formas vagas, surdindo tumultuariamente de não
sei quê desesperado ainda como o mundo dos princípios; adensam-
-se os elementos, os vendavais, a aspereza do ferro, do cálcio, da lava,
a fereza biológica dum fundo que não tem outro destino senão
explodir.
Estou a sentir na sombra: um rumor de larvas e sementes, o
amor de que sou capaz pela vida e pelos outros; o esboçar dalguma
flor negra acordando, ao ritmo dos versos; caprichos da botânica ou
desvios da alma; o vento da harmonia submerso entre caules sanguí-
neos e rugosos; a breve tempestade das conchas e dos peixes, a grande solidariedade que vos devo.
O que me espanta é a aceitação de cada dia. E desta angústia
vou tecendo as palavras, desta água salgada e doce como as lágrimas
e o sangue. Tecendo escuramente as palavras.

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