Rimance – “A Bela Infanta”
20.06.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
O rimance (forma arcaica de romance) ou xácara é o termo que, na literatura peninsular, equivale à balada europeia, curto poema épico cantado, originalmente popular e de transmissão oral.
20.06.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Estava a bela infanta
No seu jardim assentada,
Com o pente de oiro fino
Seus cabelos penteava.
Deitou os olhos ao mar
Viu vir uma nobre armada;
Capitão que nela vinha,
Muito bem que a governava.
– “Dize-me, Ó capitão
Dessa tua nobre armada,
Se encontraste meu marido
Na terra que Deus pisava.”
– “Anda tanto cavaleiro
Naquela terra sagrada…
Dize-me tu, Ó senhora,
As senhas que ele levava.”
– “Levava cavalo branco,
Selim de prata doirada;
Na ponta da sua lança
A cruz de Cristo levava.”
– “Pelos sinais que me deste
Lá o vi numa estacada
Morrer morte de valente:
Eu sua morte vingava.”
– “Ai triste de mim viúva,
Ai triste de mim coitada!
De três filhinhas que tenho,
Sem nenhuma ser casada!…
– “Que darias tu, senhora,
A quem no trouxera aqui?”
- “Dera-lhe oiro e prata fina,
Quanta riqueza há por i.”
– “Não quero oiro nem prata,
Não nos quero para mi:
Que darias mais, senhora,
A quem no trouxera aqui?”
– “De três moinhos que tenho,
Todos três tos dera a ti;
Um mói o cravo e a canela,
Outro mói do gerzeli:
Rica farinha que fazem!
Tomara-os el-rei pra si.”
– “Os teus moinhos não quero,
Não nos quero para mi:
Que darias mais, senhora,
A quem to trouxera aqui?”
– “As telhas do meu telhado
Que são de oiro e marfim.”
– “As telhas do teu telhado
Não nas quero para mi:
Que darias mais, senhora,
A quem no trouxera aqui?”
– “De três filhas que eu tenho,
Todas três te dera a ti:
Uma para te calçar.
Outra para te vestir,
A mais formosa de todas
Para contigo dormir.”
– “As tuas filhas, infanta,
Não são damas para mi:
Dá-me outra coisa, senhora,
Se queres que o traga aqui.
– “Não tenho mais que te dar,
Nem tu mais que me pedir.”
– “Tudo, não, senhora minha,
Que inda te não deste a ti.”
– “Cavaleiro que tal pede,
Que tão vilão é de si,
Por meus vilões arrastado
O farei andar aí
Ao rabo do meu cavalo,
À volta do meu jardim.
Vassalos, os meus vassalos,
Acudi-me agora aqui!”
– “Este anel de sete pedras
Que eu contigo reparti. ..
Que é dela a outra metade?
Pois a minha, vê-Ia aí!”
– “Tantos anos que chorei,
Tantos sustos que tremi!…
Deus te perdoe, marido,
Que me ias matando aqui.”
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17.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Depois daquela noite os teus seios incharam;
as tuas ancas alargaram-se;
e os teus parentes admiraram-se
e falaram, falaram…
Porque falaram duma coisa tão bela,
tão simples, tão natural?
Tu não parias uma estrela,
nem uma noite de vendaval…
Mas tudo terminou porque falaram.
Tu fraquejaste e tudo terminou.
– Os teus seios desincharam;
só a tristeza ficou.
Ficou a tristeza duma coisa tão bela,
tão simples, tão natural…
– Tu não parias uma estrela,
nem uma noite de vendaval…
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17.02.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar
Vamos hoje ouvir uma pequena nota biográfica de Camilo Castelo Branco e as primeiras páginas de uma das suas obras mais conhecidas: Eusébio Macário.
Se deseja ler o texto do programa enquanto o ouve, clique AQUI.
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08.11.2009 | Produção e voz: Luís Gaspar
Mário João Ramos escreveu:
Amigo Luís,
claro que o mundo não acaba hoje e os Lugares estarão sempre à espera de vidas novas… novas palavras… novas poesias… novas vozes… novas luzes…
esse lugar foi iluminado pelo teu trabalho… pela tua dedicação…
estou certo que continuará a ser um céu repleto de estrelas brilhando a uma só voz…
a minha homenagem pelo que fazes e fizeste na divulgação desses lugares perdidos
escondidos, esquecidos… nas gavetas mais ou menos secretas… que se foram desinibindo…
e como “palavra puxa palavra”…assim se foi construindo essa mágica áudio-antologia de autores mais ou menos anónimos…
assim nos fomos aproximando e fazendo amigos que apesar de geograficamente distantes, nos são tão internos…
sinto-te um Amigo que me habitará aceso na memória… enquanto a chama não me extinguir…
“somos matéria para combustão e sofrimento” (escrevi)…
enquanto não acabamos de arder, vamos também alimentando outras combustões… que, felizmente, reflectem a magia do riso; da felicidade; da amizade e do amor que incondicionalmente nos fecunda…
aproveito para te deixar um momento em que… o poeta, às vezes, acontece…
***
ser poeta… às vezes
quando acontece.
estar nessa latitude ocasional
e respirar do animal que somos
a alma que nos convém…
ser poeta… agora!…
enquanto a palavra sustém o verso…
no entretanto… o mito que demora
o universo acontecer…
ser poeta …
é coisa que não sei dizer ainda
ainda que… outra qualquer coisa possa ser
ser poeta… quando quiser …
às vezes, morrer de novo
nesse lugar de paz e violência
ser poeta… montanha
onde apura a razão e a demência …
ser poeta, enfim… consciência de mim
ou da coragem que nos conduz à morte
ser poeta numa qualquer noite
onde a sorte crie estrelas
ser poeta…
abraçado a elas… com ternura
ser poeta ou poesia
a mão que me segura
ser por toda a lonjura o grito…
da liberdade e do amor que tenho escrito
ser poeta é o que define a cor
dessa paisagem
ser poeta no regresso da viagem
ou na partida…
para toda a vida!
****
obrigado pela tua presença neste Lugar de ausências
Mário João, 07 de Novembro de 2009
24.10.2009 | Produção e voz: Luís Gaspar
Vamos hoje ouvir uma lenda. Sei que vocês gostam de lendas. Esta chama-se “O Senhor da Ribeira de Frielas” e está à nossa disposição na obra de Fernanda Frazão, “Lendas Portuguesas”.
Se quiseres ler a história enquanto a ouves, clica AQUI.
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13.01.2008 | Produção e voz: Luís Gaspar
Quinto e último capítulo do romance de Nikolai Gógol, “Diário de um Louco”.
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20.09.2007 | Produção e voz: Luís Gaspar
Quarto e penúltimo capítulo de “O Diário de um Louco” de Nikolai Gógol.
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14.09.2007 | Produção e voz: Luís Gaspar
Agravam-se as perturbações mentais da personagem criada por Nikolai Gógol para o seu romance “Diário de um Louco”.
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07.09.2007 | Produção e voz: Luís Gaspar
A mente doente desta personagem criada por Gógol, continua a deixar, num diário, episódios da sua vida de funcionário público.
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25.06.2007 | Produção e voz: Luís Gaspar
Vasco Graça Moura é um intelectual respeitado e um político controverso.
É colaborador de jornais, revistas e de canais de televisão. Tem muitas das suas obras traduzidas para italiano, francês, alemão, sueco e espanhol. É autor de numerosos ensaios, alguns deles premiados, e de excelentes traduções literárias.
Em 2002 com chancela da Quetzal, publicou “O Enigma de Zulmira” romance baseado em factos reais, da vida de uma mulher no período ditatorial da primeira metade dos anos cinquenta, em Portugal.
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