Carlos Drummond de Andrade – “A bunda, que engraçada”
27.01.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar
Carlos Drummond de Andrade (Itabira, 31 de outubro de 1902 — Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987) foi um famoso poeta, contista e cronista brasileiro.
27.01.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar
A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.
Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora — murmura a bunda — esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda
redunda.
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27.08.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
João Soares Coelho (1200-1278) foi um Rico-homem e cavaleiro
medieval do Reino de Portugal e do conselho real do rei D. Afonso III.
Luzia Sánchez, estais em grande falta
comigo, que nom fodo mais nada senão
uma vez; e, pois fodo, se Deus me valer
fique disso afrontado bem por três dias.
Por Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu vos pudesse foder, foder-vos-ia.
Vejo-vos deitar comigo muito defraudada,
Luzia Sánchez, porque não fodo nada;
mas se eu com isso vos satisfizesse,
pois eu foder não posso, peidar-vos-ia.
Por Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu vos pudesse foder, foder-vos-ia.
Deu-me o Demo esta pissuça cativa,
que já nem pode cuspir saíva
e, de certo, parece mais morta que viva,
e se lh’ardess’a casa, não s’ergueria.
Por Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu vos pudesse foder, foder-vos-ia.
Deitaram-vos comigo para mal dos meus pecados
pensais de mi coisas tão desconcertadas,
cuidais dos colhões, que tragu’inchados,
porque o são com foder e é com doenças
Por Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu vos pudesse foder, foder-vos-ia.
26.07.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
dedos devorando pressa e tempo
urgência desejo, arfar, corrida
negação da paz esta guerra
fúria que exige ser combatida.
fechar os olhos ter-te onde o desejo queima mais perto
fonte generosa, drink indigesto
testa em brasa, beber-te
toco o orgasmo e esgoto o cio
apalpo o meu seio, ardente de frio
invento beijos, flagelo hemisférios
provoco-me, então, o doce arrepio
vibramos os dois, em camas diferentes,
no vazio do nosso leito
combato alguns dos teus medos, ainda sinto o teu coração correr
qual cavalo, no meu peito entre o lençol de algodão
e agora já calmos, os teus nos meus dedos.
masturbação.
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05.07.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Mais do que um sonho: comoção!
Sinto-me tonto, enternecido,
quando, de noite, as minhas mãos
são o teu único vestido.
E recompões com essa veste,
que eu, sem saber, tinha tecido,
todo o pudor que desfizeste
como uma teia sem sentido;
todo o pudor que desfizeste
a meu pedido.
Mas nesse manto que desfias,
e que depois voltas a pôr,
eu reconheço os melhores dias
do nosso amor.
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05.07.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Se na mais profunda solidão se ouvem passos
Se na mais profunda escuridão se pressentem gestos
Se na mais profunda emoção se libertam sonhos
É porque há poetas que pairam espreitam vivem
Nos bosques nas sombras nas cidades adormecidas
Nas madrugadas mais frescas nas noites mais estreladas
Há poetas que inventam canções e melodias
As vozes que soletram canções que as árvores ondulam
Nas cidades das multidões enfurecidas
Por entre pernas esgares gritos e um imenso desespero
São poetas que com um olhar do tamanho do mundo
Procuram um sentido no emaranhado das palavras gritadas pelas ruas
São sempre os poetas os que estão nas paragens de todos os destinos
Os que estão para além de todas as correntes de todas as tempestades
São o elo invisível com o que está longe e é mistério
E esconde todos os segredos que lenta e subtilmente as palavras revelam.
(Este poema venceu um concurso organizado pelo blogue Porosidade Etérea)
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19.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
O sexo é sagrado,
como salgadas são as gotas de suor
que brotam dos meus poros
e encharcam nossas peles.
A noite é meu templo
onde me torno uma deusa enlouquecida
sentindo teus pelos sobre a minha pele.
Neste instante já não sou nada,
somente corpo,
boca,
pele,
pêlos,
línguas,
bocas.
E a vida brota da semente,
dos poucos segundos de êxtase.
Tuas mãos como um brinquedo
passeiam pelo meu corpo.
Não revelam segredos
desvendam apenas o pudor do mundo,
descobrem a febre dos animais.
Então nos tornamos um
ao mesmo tempo em que
a escuridão explode em festa.
A noite amanhece sem versos,
com a música do seu hálito ofegante.
O sol brota de dentro de mim.
Breves segundos.
Por alguns instantes dispo-me do sofrimento.
Eu fui feliz.
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19.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Não sou prisioneira do tempo
Nem ancoro meus sonhos
No solo árido da minha vida medíocre.
Deixo meus olhos flutuarem
Entre céus e infernos
Que a poesia me leva.
Procuro a jóia rara
De um sorriso único
Repleto de angústia e surpresa.
Navego obscura entre
meus medos e meus desejos
sem ter certeza de nada.
Que venha a vida, então,
E penetre em mim
Como um punhal
Rasgando minhas dúvidas
Cortando as amarras
Que me prendem ao possível.
Pertenço a quem me possuir,
Sou do mundo.
Sou minha vida.
Sou o espelho do que jamais serei.
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19.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Moram em mim
outros olhos que me vêem.
Neles existo e não me enxergo.
Tenho os olhos de um animal,
arisco e selvagem.
Farejo minhas vontades,
sacio minha sede
nos rios que correm em outros corpos.
Todos únicos sem serem um;
verdadeiros sem serem reais.
Tenho os olhos do pecado que não existe,
e escorrem por eles
lágrimas do sangue da minha culpa.
Tenho os olhos de versos.
Olhos de alma
que mostram meu coração de vidro,
tão pequeno e frágil,
que brilha e lacera em meu peito
inúmeras feridas
da onde brotam palavras vazias,
palavras vãs,
que eu nunca conseguirei entender.
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19.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Sei o gosto do seu beijo,
Seu cheiro me guia
Na escuridão da noite.
Onde está você agora
Que seu espírito engoliu meu coração ?
Por que não o encontro,
Amanhecendo ao meu lado,
Quando meu corpo chora seu abraço…
Não tente me entender,
Apenas me toque,
Deixa seu suor inundar
Minha pele com seu prazer
Beija-me
Possua-me
Que na minha solidão
Já não cabe o tamanho da sua ausência,
Pois quando vi seus olhos
Repletos de luz
O breu da minha tristeza
Iluminou-se de festa
E fez da minha estrada
Um rio de águas mornas
Desaguando no seu mar.
Deixe-me gritar seu nome
Deixe-me sangrar seu coração
Deixe-me lamber em seus lábios
Toda a dor que eles tem
E beber sua saliva de fel.
Não deixe meus olhos se fecharem,
Pois eles possuem os sonhos frágeis
De quem ama demais.
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19.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Não vejo mais sentido
Naquilo que tenho sentido.
Não flutuo em águas rasas.
Mergulho.
A escuridão e o peso do oceano
Me fascinam e apavoram.
Até onde posso ir?
E se eu não souber como voltar?
Não há farol que me guie.
Não há razões.
A profundeza do oceano é meu abrigo.
Seguro e solitário.
Abissal sem fim.
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19.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Programa 52 – Cláudia Marczak
Poesia de Cláudia Marczak já se ouviu no Estúdio Raposa, exatamente no programa “Poesia Erótica 36”, intitulado “5poemas5”, ao lado de Affonso Romano de Sant’Anna, Salvador Pliego, Rosa Lobato Faria e Alexandre O’Neill.
Sobre Cláudia Marczak, dizia eu nessa altura, Março de 2.009: “Cláudia Marczak, poeta brasileira, é um caso curioso de internet. Se, no Google, fizermos uma busca pelo seu nome, encontramos dezenas de entradas, a maior parte com um seu famoso poema “O sexo é sagrado”, assim como referências à sua obra, mas e aqui a curiosidade, sem uma linha sobre a sua biografia. Nada. MÚSICA
Pois, passados três anos o Google cumpriu a sua mais apreciada missão: descobrir factos e encontrar pessoas.
Cláudia Marczak descobriu a declamação do seu poema e escreveu-me acabando com o mistério, para mim, da sua biografia.
Eis o que a Cláudia me disse, sobre si.
“Luis, vou falar um pouco de mim e como a poesia, ou melhor as palavras (é que atualmente não é só a poesia que me basta) apareceram na minha vida. Eu tinha mais ou menos oito anos quando comecei a escrever. Primeiro porque vi alguns poemas de uma colega minha e achei aquilo bonito demais. Depois, porque achei um jeito muito interessante de eu me expressar. A poesia passou a ser um universo paralelo, no qual eu poderia ter acesso sempre que eu quisesse. Aos quinze anos, com ajuda dos meus pais, publiquei um livro com algumas poesias. Era algo muito amador e muito louco para uma adolescente ter várias pessoas a conhecendo de uma forma muito diferente.
A vida, então me levou para muitos outros caminhos, mas nunca parei de escrever. Em 96 o CAOS, uma coletânea de poemas meus, foi colocado na rede. Nele é que estão os poemas que você apresentou no Estúdio Raposa.
Muitas coisas interessantes aconteceram depois que o Caos tornou-se público. Tive poemas colocados em cardápios de um café, aí de Portugal; alguns foram usados em teses, blogs, páginas da rede e o meu poema “Quero um homem” participou de uma peça teatral, encenada no Rio de Janeiro. Em 2010, publiquei pela World Art and Friends, uma editora portuguesa, meu livro Lugar Algum, também de poemas, No início desse ano o Caos saiu de seu modo virtual e ganhou uma roupagem real, sendo publicado por uma editora independente aqui do Brasil mesmo. Agora estou trabalhando no meu primeiro romance, que deve ser lançado entre maio e junho deste ano e irá participar da bienal do livro de São Paulo.
Sabe que falando assim até parece que o caminho tem sido fácil. Não foi e não é. Encontrar tempo para as minhas palavras, para que eu possa me deixar sentir tudo o que vivo é um desafio constante. Outro desafio é lançar essas palavras no mundo. Elas não são somente minhas. Se ficassem apenas em mim não faria sentido nenhum, elas têm que encontrar morada em outros olhos. Na verdade eu só consigo me entender através das palavras. É como eu falei para um amigo, eu não leio o mundo, eu o escrevo.
Bom,Luis, acho que deu pra saber um pouco de mim. Abaixo vai um poema do Lugar Algum de presente para você. Espero que goste.
Um grande abraço
Cláudia Marczak”
Vamos ouvir, cinco poemas de Cláudia Marczak, entre os quais aquele com que participou no Estúdio Raposa, há três anos. Começamos por esse.
O sexo é sagrado…
O sexo é sagrado,
como salgadas são as gotas de suor
que brotam dos meus poros
e encharcam nossas peles.
A noite é meu templo
onde me torno uma deusa enlouquecida
sentindo teus pelos sobre a minha pele.
Neste instante já não sou nada,
somente corpo,
boca,
pele,
pêlos,
línguas,
bocas.
E a vida brota da semente,
dos poucos segundos de êxtase.
Tuas mãos como um brinquedo
passeiam pelo meu corpo.
Não revelam segredos
desvendam apenas o pudor do mundo,
descobrem a febre dos animais.
Então nos tornamos um
ao mesmo tempo em que
a escuridão explode em festa.
A noite amanhece sem versos,
com a música do seu hálito ofegante.
O sol brota de dentro de mim.
Breves segundos.
Por alguns instantes dispo-me do sofrimento.
Eu fui feliz.
Não vejo mais…
Não vejo mais sentido
Naquilo que tenho sentido.
Não flutuo em águas rasas.
Mergulho.
A escuridão e o peso do oceano
Me fascinam e apavoram.
Até onde posso ir?
E se eu não souber como voltar?
Não há farol que me guie.
Não há razões.
A profundeza do oceano é meu abrigo.
Seguro e solitário.
Abissal sem fim.
Sei o gosto…
Sei o gosto do seu beijo,
Seu cheiro me guia
Na escuridão da noite.
Onde está você agora
Que seu espírito engoliu meu coração ?
Por que não o encontro,
Amanhecendo ao meu lado,
Quando meu corpo chora seu abraço…
Não tente me entender,
Apenas me toque,
Deixa seu suor inundar
Minha pele com seu prazer
Beija-me
Possua-me
Que na minha solidão
Já não cabe o tamanho da sua ausência,
Pois quando vi seus olhos
Repletos de luz
O breu da minha tristeza
Iluminou-se de festa
E fez da minha estrada
Um rio de águas mornas
Desaguando no seu mar.
Deixe-me gritar seu nome
Deixe-me sangrar seu coração
Deixe-me lamber em seus lábios
Toda a dor que eles tem
E beber sua saliva de fel.
Não deixe meus olhos se fecharem,
Pois eles possuem os sonhos frágeis
De quem ama demais.
Coração de Vidro
Moram em mim
outros olhos que me vêem.
Neles existo e não me enxergo.
Tenho os olhos de um animal,
arisco e selvagem.
Farejo minhas vontades,
sacio minha sede
nos rios que correm em outros corpos.
Todos únicos sem serem um;
verdadeiros sem serem reais.
Tenho os olhos do pecado que não existe,
e escorrem por eles
lágrimas do sangue da minha culpa.
Tenho os olhos de versos.
Olhos de alma
que mostram meu coração de vidro,
tão pequeno e frágil,
que brilha e lacera em meu peito
inúmeras feridas
da onde brotam palavras vazias,
palavras vãs,
que eu nunca conseguirei entender.
Não sou…
Não sou prisioneira do tempo
Nem ancoro meus sonhos
No solo árido da minha vida medíocre.
Deixo meus olhos flutuarem
Entre céus e infernos
Que a poesia me leva.
Procuro a jóia rara
De um sorriso único
Repleto de angústia e surpresa.
Navego obscura entre
meus medos e meus desejos
sem ter certeza de nada.
Que venha a vida, então,
E penetre em mim
Como um punhal
Rasgando minhas dúvidas
Cortando as amarras
Que me prendem ao possível.
Pertenço a quem me possuir,
Sou do mundo.
Sou minha vida.
Sou o espelho do que jamais serei.
Ouvimos, no programa “Poesia Erótica” nº 52, poesia da poeta brasileira, Cláudio Marczak a quem envio um agradecimento pela disponibilidade na participação do “Poesia Erótica”
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30.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
dedos devorando pressa e tempo
urgência desejo, arfar, corrida
negação da paz esta guerra
fúria que exige ser combatida.
fechar os olhos ter-te onde o desejo queima mais perto
fonte generosa, drink indigesto
testa em brasa, beber-te
toco o orgasmo e esgoto o cio
apalpo o meu seio, ardente de frio
invento beijos, flagelo hemisférios
provoco-me, então, o doce arrepio
vibramos os dois, em camas diferentes,
no vazio do nosso leito
combato alguns dos teus medos, ainda sinto o teu coração correr
qual cavalo, no meu peito entre o lençol de algodão
e agora já calmos, os teus nos meus dedos.
masturbação.
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08.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Porque me beijou Perico,
porque me beijou o traidor.
Enquanto, mãe, eu dormia,
do que muito me arrependo,
senti a mão dele que ia
a camisola me erguendo;
se bem que agora me ria,
lembrá-lo me dá temor,
porque me beijou Perico,
porque me beijou o traidor.
Tão logo, como vos digo,
adormecida me viu,
pôs-se a apalpar, sob o umbigo,
o com que Deus me supriu;
quereis que, por meu castigo,
ainda lhe tenha amor?
Porque me beijou Perico,
porque me beijou o traidor.
E pouco depois lá vinha
a sua perna atrevida
introduzir-se entre as minhas
para me abrir a guarida;
juro que nunca na vida
padeci tamanha dor
porque me beijou Perico
porque me beijou o traidor
E quanto mais se agitava,
mais ficavam deleitosos,
dois mil gozos que me dava
como açúcares cremosos.
Deu-me beijos tão gostosos
que deles guardo o sabor,
porque me beijou Perico,
porque me beijou o traidor.
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08.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Consentiu certa dama na porfia
insistente do seu enamorado.
Julgou, por seu nariz, estar provado
que ele outro tanto alhures possuía.
Mas enganou-se nessa profecia:
bem pouco o dele, e o dela demasiado,
de sorte que ele, em sítio tão folgado,
não sabia se entrava ou se saía.
Disse-lhe a dama perturbada e triste:
“Vosso nariz pregou-me uma partida.”
Ao que ele respondeu com brejeirice:
“Que um defeito que tal não vos contriste;
se pelo nariz meu fostes traída,
o vosso, dama, só verdade disse.”
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08.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
À beira d’água estando certo dia,
descuidada, uma dama primorosa,
de mirar seu inferno desejosa
e vendo-se ali só, sem companhia,
a saia ergueu, que vê-lo lhe impedia
e, feliz de ver coisa tão preciosa,
disse, com doce voz de quem se goza,
e que de dentro d’alma lhe saía:
“Por vós eu sou de tantos requestada,
por vós me dão colares e pulseira,
sapatos, saia e manto para o frio.
“Um beijo quero dar-vos” e baixada
para o dar escorregou na beira
e de cabeça despencou no rio.
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07.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Sento-me à beira da cama
que nos acolheu: um rio
que recebeu o músculo, o sangue rumoroso
e não partiu. Um lago azul de mais
e por demais queimado
onde, semi-acordada, dormes. Uma
feiticeira. Disseste ontem à noite,
Acorda-me quando acordares. Não tive
coragem. Mas o sol começou a trepar pelos lençóis
onde fomos espuma, excitação.
Minha boca não deixou que o sol
entrasse sozinho. Quando acordaste
já eu navegava
em nuvens perfumadas. As árvores de ti
sorriam, balançavam.
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07.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
I
Quando já não se espera nada
a vida, cascata impetuosa, tem outro
sabor: é um grão de luz, uma gota
que nos inunda
e então esse que não esperava nada
abre os olhos e vê e ouve
e tudo em volta são ilhas que se levantam
a brilham.
II
Ando por aqui a ver o mundo
e só vejo buracos e ruínas. Pudesses tu regar
as folhas secas que me invadem o sexo
com o teu mel com as tuas lágrimas.
III
O amor: amêndoa clara
que tu mastigas, primeiro com os olhos,
depois com a boca
insaciável. Fomos tão belos,
tão frágeis e devastados
que os outros da barca nos lançaram
borda fora.
IV
Deuses haverá para quem
um rio e uma abelha
voam um pouco mais perto,
um pouco menos perdidos
na brisa. Deuses haverá.
Que talvez saibam um pouco mais
sobre as abelhas que revivem no sangue
da minha amada. Tal um pé que se aproxima
da sua morada.
V
Envelheci? Bebo a mesma gota de água
de quando mergulhei em ondas que me lembravam
bocas nómadas. Nómada sou eu agora,
descobrindo na minha amada
lagos e abismos e ilhas
que me reconhecem. Sou um deles.
Um cavalo
que pisa as uvas sagradas
que mais ninguém vê: a sede
não espera.
VI
Bebo águas tuas no vaso
que as contém. A gota comovida
vai transformar-se em rio.
Sorvo nas tuas mãos o osso
e a carícia, o cerne mais cru
e a solidão de quem sobrevive
ao sexo ardente. Também eu ardo
onde fui sede e palavras fatigadas.
VII
Eu posso beber um rio
afogar-me nele inundar-me inundá-lo
mas não posso queimá-lo não posso queimar o rio amado
e deixar-me dormir a seu lado —
eu posso beber um rio o teu rio
ou uma lágrima e cantá-la
o que não posso não sei não seria capaz
é afogar-me no rio amado e continuar
em paz.
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07.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Como se fosses um rio e esse rio
ascendesse, amo-te, quero dizer,
entro em tuas terras, eu que nunca
delas saí. Como se fôssemos
as duas primeiras gotas do primeiro rio
descemos lado a lado, olhamos um para o outro
e sorrimos. Românticos e perversos,
às vezes acontece. Bebo-te, embriago-me,
enquanto as montanhas fazem o que sempre
fizeram: curvam-se, complacentes,
sobre quem vai correndo por vales silenciosos.
Vamos com as nuvens, soletramos
os escolhos desta descida
entre a luz e a sombra. Dois rios
lado a lado, trocando águas, memórias,
emoções. O mundo em volta, uma casa
que se constrói a si própria
e por isso é vão invocar
o amor, a concórdia, as festas, a doce rotina
de quem, vagaroso, arde. O fogo
deixa-se purificar pelo silêncio
quando nos deitamos na luz que se deita
a nosso lado.
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07.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Escrevo com o teu sexo
nos olhos. Aproximo a língua do chão
onde uma flor de carne brilha.
O teu olhar derrama-se nas areias do meu corpo,
as tuas unhas na raiz dos meus cabelos,
a tua língua nos músculos mais íntimos.
Amo-te, mulher de sangue e mais leve
que mil galáxias; mais densa que ruínas
acabadas de nascer. Floresço em tuas terras
enquanto inteira te alojas
no meu sangue. Beber-te e ser bebido
por ti: aurora! Comer-te e ser comido por ti
em glória. Deixa-me ser o eterno adolescente
da tua noite; desfazer-me em conchas
onde a luz se aloja, e a sua sombra.
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07.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Amo-te porque sou dependente do teu odor.
Amo-te porque balanças nos ventos futuros.
Porque sou uma árvore que se abriga à tua sombra.
Amo-te porque só sei respirar na cidade de Eros.
Amo as marcas indecifráveis de todas as etnias
que produziram a beleza do teu rosto.
Bebo nas tuas coxas o linho molhado da minha infância.
Amo-te porque és alucinação e no mesmo corpo mulher e pássaro.
Amo-te porque também de noite és o meu sol quotidiano.
Amando-te não preciso de correr por montes e vales em busca
da mãe primordial.
Amo-te porque és a irmã do meu corpo nómada.
Amo-te porque deixei de ter pressa.
Um poema infinito, uma cascata em cada sílaba.
Uma lua que me engole quando começo a ser sábio.
A vegetação no jardim que foi de pedra.
Conheci na tua carne a lama do meu reino luminoso.
Amo-te porque me fazes saltar o coração e lá vai ele a caminho
das tuas cores que são as cores
do teu corpo em flor. E assim renasço
no enigma da tua carne, que voa.
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07.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Acordo. Dormes ainda.
Que fazer se me apetece?
Pego na tua mão
e pouso-a onde estou vivo.
Respiras. Andantino.
As costas para mim. Não resisto.
Os dedos, leves, ensalivados,
vão à procura do grão, do seu
pólen. Vão e vêm, vou e venho.
Beijo-te no ombro. Sorris.
Dormes ainda? Subitamente
abres os olhos abres a boca
e debruças-te sobre mim.
O dia principia.
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14.09.2011 | Produção e voz: Luís Gaspar
Mais um programa de poesia erótica, o terceiro, com poesia de Casimiro de Brito.
Há quem diga, e quem sou eu para duvidar, que Casimiro de Brito e David Mourão-Ferreira são os dois grandes poetas do erotismo, na poesia portuguesa.
Até pode ser verdade, agora o que nem um nem o outro são, apenas, trovadores do erotismo. Como poetas, são muito mais do que isso.
Se quer ler o texto do programa e dos poemas, clique AQUI.
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20.05.2011 | Produção e voz: Luís Gaspar
Quarta e última parte da obra de Pablo Neruda “Vinte Poemas de Amor” com os seguintes poemas: “No meu céu ao crepúsculo…”, “Pensando, enredando sombras…”, “Aqui te amo…”, “Moça morena e ágil…” e “Posso escrever os versos…”.
Se deseja acompanhar a audição dos poemas com a leitura dos textos, clique AQUI.
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18.05.2011 | Produção e voz: Luís Gaspar
Terceira parte (cinco poemas) de “Vinte Poemas de Amor” de Pablo Neruda: “Quase fora do céu…”,”Para o meu coração…”,”Eu fui marcando…”, “Brincas todos os dias…” e “Gosto de ti calada…”.
Se deseja acompanhar a audição com a leitura ou “baixar” o texto, clique AQUI
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17.05.2011 | Produção e voz: Luís Gaspar
Segunda Parte de “Vinte Poemas de Amor” de Pablo Neruda constituída por cinco poemas: “Recordo-te como eras…”, “Inclinado nas tardes…”, “Abelha branca zumbes…”, “Ébrio de Terebintina…” e “Também este crepúsculo…”.
Se deseja acompanhar a audição com a leitura dos textos ou “baixa-los”, clique AQUI
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10.09.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar
“O erotismo,
por vezes por capricho humano,
é usado com certeza ornamental…
Mas…
Como de todas as certezas nasce o engano, só a incerteza é puramente natural!
O erotismo dentro, em nós invoca…
Na sua vastíssima boca,
uma expressão única e sexualmente louca…! “
Palavras de Luísa Demétrio Raposo, a autora cuja poesia vamos ouvir neste programa.
Se deseja ler o programa enquanto o ouve, clique AQUI
Podcast: Download
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07.05.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar
Com os seguintes poetas: Affonso Romano, 1 poema, Alexandre O’Neill, 1 poema, Alvares Azevedo, 1 poema, Antero de Quental, 1 poema, António Botto, 5 poemas, Claudia Marczak, 1 poema, Ernesto Melo e Castro, 5 poemas, Gui de Maupassant, 1 texto, Gustave Flaubert, 1 texto, Jean Everaets, 3 poemas, Judith Teixeira, 5 poemas, Rosa Lobato Faria, 1 poema, Salvador Pliego, 1 poema e Vera Silva, 5 poemas.
Todos os poemas já apresentados em “Poesia Erótica”.
Podcast: Download
07.04.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar
Neste programa, poesia de Natália Bonnaud Nunes.
Mais uma autora que chega ao Estúdio Raposa através do Facebook.
“Foi através da nossa “amizade” no Facebook que conheci o vosso trabalho, que me interessou bastante.” – diz Natália Bonnaud Nunes
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31.03.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar
Poetisa do Amor Sáfico que só recentemente tem a sua poesia colocada no alto patamar que a sua qualidade merece.
Este vídeo é já conhecido de muitos ouvintes por ter feito parte do lote de trabalhos de teste.
Pode ouvir um programa “Poesia Erótica” com trabalhos de Judith Teixeira
25.03.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar