Nota biográfica

José Carlos Pereira Ary dos Santos (Lisboa, 7 de Dezembro de 1937 — Lisboa, 18 de Janeiro de 1984) foi um publicitário, poeta e declamador português.

Ary dos Santos – “Ao meu falecido irmão, Manuel Maria Barbosa du Bocage”

30.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Meu sacana de versos! Meu vadio.

Fazes falta ao Rossio. Falta ao Nicola.

Lisboa é uma sarjeta. E um vazio.

E é raro o poeta que entre nós faz escola.

Mastigam ruminando o desafio.

São uns merdosos que nos pedem esmola.

Aos vinte anos cheiram a bafio

têm joanetes culturais na tola.

Que diria Camões, nosso padrinho 

ou o Primo Fernando que acarinho 

como Pessoa viva à cabeceira?

O que me vale é que não estou sozinho

ainda se encontram alguns pés de linho 

crescendo não sei como na estrumeira!

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Cristina Guedes – “Tocar-me te”

30.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar



dedos devorando pressa e tempo

urgência desejo, arfar, corrida

negação da paz esta guerra

fúria que exige ser combatida.

fechar os olhos ter-te onde o desejo queima mais perto

fonte generosa, drink indigesto

testa em brasa, beber-te

toco o orgasmo e esgoto o cio

apalpo o meu seio, ardente de frio

invento beijos, flagelo hemisférios

provoco-me, então, o doce arrepio

vibramos os dois, em camas diferentes,

no vazio do nosso leito

combato alguns dos teus medos, ainda sinto o teu coração correr

qual cavalo, no meu peito entre o lençol de algodão

e agora já calmos, os teus nos meus dedos.

masturbação.

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Palavras 160 – “Ary dos Santos”

29.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Exagerado, provocador, forte, por vezes violento com as palavras,
grande declamador da sua poesia, era assim Ary dos Santos.

Foi publicitário, indústria onde deixou trabalhos ainda hoje recordados
(“Minha lã, meu amor”); viveu o mundo da canção popular a quem emprestou
muitas das suas vibrantes palavras (A Desfolhada, Menina do Alto da Serra,
Tourada, Invenção do Amor, Estrela da Tarde, Canção de Madrugar,
Quando um homem quiser, e tantas, tantas outras). Deu alimento a grandes
vedetas da música portuguesa, de Amália Rodrigues a Carlos do Carmo,
Tonicha, Simone de Oliveira, Fernando Tordo, etc., etc.

Ary dos santos deixou-nos há 28 anos, faleceu em Janeiro de 1984, e num
texto de Manuel Gusmão, num ensaio que acompanha a edição de oito dos
seus poemas, pode ler-se: “José Carlos Ary dos Santos tem 46 anos e
sabe que vai morrer. Sabendo-o, escreve: poemas, sonetos”.

Nos últimos meses de 1983, quando já se encontrava gravemente doente,
José Carlos Ary dos Santos decidiu trabalhar para a publicação de um
livro de 35 sonetos. Aos numerosos amigos que o visitaram durante a
doença deu duas razões para este projecto: por um lado, aproveitar o
tempo que a doença o forçava a passar em casa; por outro, ultrapassar
as limitações que por ela lhe eram impostas quanto a trabalho recorrendo
a uma forma poética — o soneto — que dominava e não exigia grande esforço
físico de escrita que lhe era já penoso.

Dos 35 sonetos previstos, apenas oito haviam sido completados à data da morte,
em 18 de Janeiro de 1984.

No 10º aniversário da Revolução de 25 de Abril, o Partido Comunista
Português publicou esses oito sonetos, num projeto gráfico de Rogério Ribeiro
e acompanhado de um ensaio, já referido, de Manuel Gusmão.
Numa homenagem ao grande poeta e ao companheiro de trabalho que acompanhei
durante anos, vou ler, de seguida, esses oito sonetos.

Ao meu falecido irmão


Meu sacana de versos! Meu vadio.

Fazes falta ao Rossio. Falta ao Nicola. 

Lisboa é uma sarjeta. E um vazio.

E é raro o poeta que entre nós faz escola.

Mastigam ruminando o desafio.

São uns merdosos que nos pedem esmola.

Aos vinte anos cheiram a bafio

têm joanetes culturais na tola.

Que diria Camões, nosso padrinho 

ou o Primo Fernando que acarinho

como Pessoa viva à cabeceira?

O que me vale é que não estou sozinho 

ainda se encontram alguns pés de linho 

crescendo não sei como na estrumeira!

Insónia

As noites — escorpiões suicidados 

Com o seu próprio veneno nas entranhas

ressuscitam depois em madrugadas

cada vez mais azuis e mais estranhas.

São insónias tecendo alucinadas

uma teia de horas e de aranhas 

patas tácteis peludas eriçadas 

com o peso latente das montanhas.

E por dentro dos olhos um perfil 

de ferro e fogo deixa-nos queimados 

selados como a chuva e como o vento.

Será possível que depois de Abril 

ainda adormeçamos acordados 

neste país-raiz de sofrimento?

Poesia-orgasmo

De sílabas de letras de fonemas 

se faz a escrita. Não se faz um verso. 

Tem de correr no corpo dos poemas 

o sangue das artérias do universo.

Cada palavra há-de ser um grito 

um murmúrio um gemido uma erecção

que transporte do humano ao infinito 

a dor o fogo a flor a vibração

A Poesia é de mel ou de cicuta? 

Quando um poeta se interroga e escuta

ouve ternura luta espanto ou espasmo?

Ouve como quiser seja o que for

Fazer poemas é escrever amor

e poesia o que tem de ser é orgasmo.

Sonata de Outono

Inverno não ainda mas Outono
a
sonata que bate no meu peito

Poeta distraído cão sem dono

até na própria cama em que me deito.

Acordar é a forma de ter sono

O presente o pretérito imperfeito 

Mesmo eu de mim me abandono 

se o vigor que me devo não respeito.

Morro de pé, mas morro devagar. 

A vida é afinal o meu lugar

e só acaba quando eu quiser.

Não me deixo ficar. Não pode ser.

Peço meças ao Sol, ao Céu, ao Mar 

Pois viver é também acontecer.

Soneto de Inês

Dos olhos corre a água do Mondego

Os cabelos parecem os choupais 

Inês! Inês! Rainha sem sossego

dum rei que por amor não pode mais.

Amor imenso que também é cego 

Amor que torna os homens imortais. 

Inês! Inês! Distância a que não chego

Morta tão cedo por viver demais.

Os teus gestos são verdes os teus braços 

são gaivotas pousadas no regaço

dum mar azul turquesa intemporal.

As andorinhas seguem os teus passos

e tu morrendo com os olhos baços. 

Inês! Inês! Inês de Portugal.

Telegrama para Gomes Leal

Tia Maria Poesia a acabar. 

Stop. Vem depressa. Testamento incerto. 

É certo que não tinha que deixar 

mais que um saldo no banco a descoberto.

Anda a crítica toda a farejar.

Os enteados rondam muito perto.

Volta depressa ó meu. O teu lugar

é aqui ajudando neste aperto.

Toma a carreira Inferno-Portugal. 

Fizeste-a tantas vezes! E a viagem 

agora de caixão é mais barata.

Vem-me ajudar a consolar a tia. 

A Natália está lá. Não a Sofia

Cara-de-cu que sempre foi ingrata.

Memória de Adriano

Nas tuas mãos tomaste uma guitarra 

copo de vinho de alegria sã

sangria de suor e de cigarra 

que à noite canta a festa de amanhã.

Foste sempre o cantor que não se agarra 

o que à terra chamou amante e irmã 

mas também português que investe e marra

voz de alaúde rosto de maçã.

O teu coração de ouro veio do Douro 

num barco de vindimas de cantigas

tão generoso como a liberdade.

Resta de ti a ilha dum tesouro

a jóia com as pedras mais antigas.

Não é saudade, não! É amizade.

Infância

Não minha mãe. Não era ali que estava. 

Talvez noutra gaveta. Noutro quarto. 

Talvez dentro de mim que me apertava 

contra as paredes do teu sexo-parto.

A porta que entretanto atravessava

talhada no teu ventre de alabastro 

abria-se fechava dilatava.

Agora sei: dali nunca mais parto.

Não minha mãe. Também não era a sala 

nem nenhum dos retratos de família 

nem a brisa que a vida já não tem.

Talvez a tua voz que ainda me fala… 

… o meu berço enfeitado a buganvília…

Tenho tantas saudades, minha mãe!

Ouvimos o “Palavras de Ouro” 160, dedicado aos oito últimos poemas escritos por José Carlos Ary dos Santos.

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Alberto de Lacerda – “Tese e Antítese”

26.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

tese

Nunca mais
E arrasto comigo pelo braço da esperança
As horas marejadas as pedras do desgosto
A fome de amor
A cavernosa rouca diamantina
Fome de amor

Nunca mais e sobre os altos silêncios
No tumulto insensato
À beira do abismo
Ressuscito
Os rostos bem amados
Traiçoeiros
Dou-lhes andas
Dou-lhes palhaços
A infância que não tive
E que perdi
A paz que não é minha

Nunca mais

Agora só há abismos não há rostos

Passem duendes príncipes Antinos
Mas de largo

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Alda do Espírito Santo – “Para lá da praia”

26.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Baía morena da nossa terra
vem beijar os pezinhos agrestes
das nossas praias sedentas,
e canta, baía minha
os ventres inchados
da minha infância,
sonhos meus, ardentes
da minha gente pequena
lançada na areia
da praia morena
gemendo na areia
da Praia Gamboa.

Canta, criança minha
teu sonho gritante
na areia distante
da praia morena.

Teu tecto de andala (1)
à berma da praia
teu ninho deserto
em dias de feira,
mamã tua, menino
na luta da vida.

Gamã pixi (2) à cabeça
na faina do dia
maninho pequeno, no dorso ambulante
e tu, sonho meu, na areia morena
camisa rasgada,
no lote da vida,
na longa espera, duma perna inchada

Mamã caminhando p’ra venda do peixe
e tu, na canoa das águas marinhas
– Ai peixe à tardinha
na minha baía
mamã minha serena
na venda do peixe
pela luta da fome
da gente pequena.

(1) Andala: folha de palmeira;
(2) Gamã pixi: gamela com peixe.

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Carlos Eurico da Costa – “Neste dia…”

26.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Neste dia meu amor
os meus dedos são o candelabro que te ilumina
o único existente.

E o homem
sua esfera perdida em mãos alheias
é o objecto de malabarismo
o insecto
voltejando cega a luz que lhe irradiam
o límpido cristal corrompido
o defunto.

E este patíbulo onde o próprio carrasco se enforcará
eu o digo
será erguido como símbolo de todos os homens.

Aqui a hora vai sendo longínqua meu amor e solene.
O caminho é grande o tempo tão pouco
tenhamos muita esperança e muito ódio
e vítreas flores a ornar o teu cabelo
porque serei o homem para as transportar
e tu a última mulher que as aceitará.

E enquanto assim for
erguer-se-á a nuvem de múltiplas estrelas
a nebulosa
que dizem estar a milhões de anos-luz
mas não acreditemos bem o sabes
porque em verdade a temos em nossas próprias mãos
oculta para a contemplarmos agora.

in A Única Real Tradição Viva Antologia da Poesia Surrealista Portuguesa de Perfecto E. Cuadrado
Assírio & Alvim – 1998

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Carlos Eurico da Costa – “A Cidade de Palaguin”

26.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Na cidade de Palaguin

o dinheiro corrente era olhos de crianças

Em todas as ruas havia um bordel

e uma multidão de prostitutas

frequentava aos grupos casas de chá.

Havia dramas e histórias de era uma vez

havia hospitais repletos:

o pus escorria da porta para as valetas.

Havia janelas nunca abertas

e prisões descomunais sem portas.

Havia gente de bem a vagabundear

com a barba crescida.

Havia cães enormes e famélicos

a devorar mortos insepultos e voantes.

Havia três agências funerárias

em todos os locais de turismo da cidade.

Havia gente a beber sofregamente

a água dos esgotos e das poças.

Havia um corpo de bombeiros

que lançava nas chamas gasolina.



Na cidade de Palaguin

havia crianças sem braços e desnudas

brincando em parques de pântanos e abismos.

havia ardinas a anunciar

a falência do jornal que vendiam;

havia cinemas: o preço de entrada

era o sexo de um adolescente

(as mães cortavam o sexo dos filhos

para verem cinema).

Havia um trust bem organizado

para exploração do homossexualismo

havia leiteiros que ao alvorecer

distribuíam sangue quente ao domicílio.

Havia pobres a aceitar como esmola

sacos de ouro de trezentos e dois quilos.

E havia ricos pelos passeios

implorando misericórdia e chicotadas.


Na cidade Palaguin

havia bêbados emborcando ácidos

retorcendo-se em espasmos na valeta.

Havia gatos sedentos

a sugar leite nos seios das virgens.

Havia uma banda de música

que dava concertos com metralhadoras;

havia velhas suicidas

que se lançavam das paredes para o meio da multidão.

Havia balneares públicos

com duches de vitríolo – quente e frio

– a população banhava-se frequentes vezes.



Na cidade de Palaguin

havia Havia HAVIA…



Três vezes nove um milhão.

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Daniel Faria – “”Sei que…”

26.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Sei que o homem lavava os cabelos como se fossem longos
Porque tinha uma mulher no pensamento
Sei que os lavava como se os contasse

Sei que os enxugava com a luz da mulher
Com os seus olhos muito claros voltados para o centro
Do amor, da operação poderosa
Do amor

Sei que cortava os cabelos para procurá-la
Sei que a mulher ia perdendo os vestidos cortados

Era um homem imaginado no coração da mulher que lavava
O cabelo no seu sangue

Na água corrente

Era um homem inclinado como o pescador nas margens para ouvir
E a mulher cantava para o homem respirar

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Daniel Faria – “Quero a Fome de Calar-me”

23.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Quero a fome de calar-me. O silêncio. Único
Recado que repito para que me não esqueça. Pedra
Que trago para sentar-me no banquete

A única glória no mundo — ouvir-te. Ver
Quando plantas a vinha, como abres
A fonte, o curso caudaloso
Da vergôntea — a sombra com que jorras do rochedo

Quero o jorro da escrita verdadeira, a dolorosa
Chaga do pastor
Que abriu o redil no próprio corpo e sai
Ao encontro da ovelha separada. Cerco

Os sentidos que dispersam o rebanho. Estendo as direcções, estudo-lhes
A flor — várias árvores cortadas
Continuam a altear os pássaros. Os caminhos
Seguem a linha do canivete nos troncos

As mãos acima da cabeça adornam
As águas nocturnas — pequenos
Nenúfares celestes. As estrelas como as pinhas fechadas

Caem — quero fechar-me e cair. O silêncio
Alveolar expira — e eu
Estendo-as sobre a mesa da aliança

in “Dos Líquidos”

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Álvaro Neto – “Uma só vida não chega”

23.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

uma só vida não chega

nem outra nem outra ainda

para dizer que te amo

meu amor meu só amor.
 
E quando a morte vier

inevitável e certa

que seja eu o primeiro

a ficar no livro inscrito.
 
Que ali discreto seja

e feliz por ter amado

a mulher por que morri
 
vivendo. Nada mais quero.

Se de seu amor morri

morrendo volto a viver.
 

in «Sequências», 
Livros horizonte, Lisboa, 2000

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Gastão Cruz – “A roupa envolve-nos”

22.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

A roupa envolve-nos
a paragem do mar cresce contigo
a língua e o sentido tudo anda
tão ocupado tão cansado e destruído
que a roupa em
torno morre como um foco de ruído

O movimento cerca esta mudez
o mar desidratado é o abismo
onde revives
Viste os vales instáveis do mar
mas para que é perguntar senão que se fez de ti
O fogo sob as vozes que não ouves
A língua vive ainda?

Inscrevo na memória tumefacta
mais uma imagem
Esses corpos nascem
O que posso dizer para cobri-los?
Ouves? Está comigo
a mortalidade da tua vida

Como falar contigo? Mas o som
produzido era tanto
que as cordas se formavam com a sua saída
retomavam a forma destruída
enquanto
tudo o que te dizia dividia
um som tempestuoso

Na ocasião da queda
desses algum
olha as áreas correspondentes no mar
volta transforma-se
é um sinal de
contradição
e sob a chuva contínua de relâmpagos revive

Porém o som inibe-te prossegues
sem segurança o canto a turva cítara
vence-te não o canto repetido
Essas cordas do peito já distensas

submetem-se ao silêncio poderias
escolhê-las porém sempre repetes
os nomes desses corpos a mudez
intimida-te assim a poesia

nasce com o rumor dos próprios corpos
com o bater dos nomes entre os ombros
tão dóceis mar de músculos

mudos
o coração do corpo
repetindo os nomes turvos

Como é possível termos esquecido a linguagem?
Comparámos os corpos Se os descrevo
agora que deixámos de falar
esqueço a igualdade e nela cessa
a possibilidade de falar

É um erro a cidade alguma vez a
cantaste?
Mas já não é possível a verdade é que
definitivamente nela morres
Por isso escolherás o teu estilo
de novo por palavras errarás

Na praia exterminada não pudemos
cantar a liberdade
sobre o teu corpo correm turvas asas
de entre as pedras
levantas a cabeça enquanto cais

Depois a roupa gera e espalha a escuridão
cada corpo isolado se transforma
sob as asas que
o cobrem

Desencontramo-nos
a terra recomeça a deter-te
preciso de dizer
esse teu nome
Mas não ouças a minha fala transformada

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João Miguel Fernandes Jorge – “Como conversámos…”

22.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Era o quarto de azulejo. 

O cheiro do tabaco. 

O cão

os olhos para que visse o de fora. 

Cego 

conhecendo a terra sem se conhecer. 

Em nós 

fizémos sair a lua o sol.

Em todos

o visível o invisível.



Éramos nós e estávamos no fim do mundo.



Como conversámos aquela noite. Era o quarto de azulejo 

a mesa de braseira o cheiro do tabaco. 

Andara sem destino durante meses

e, aquela noite surgia com o simples virar a 

página de um livro, 

quando uma palavra torna claro o enredo de longos capítulos. 

Assim duas vidas se revelam.



Éramos nós. Estávamos no fim do mundo, quero dizer, 

encontrei-me de súbito na minha vida, 

na sua vida.

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Álvaro de Campos – “Tabacaria”

21.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Não sou nada. 

Nunca serei nada. 

Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto, 

Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém 
sabe quem é

(E se soubessem quem é, o que saberiam?),

Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por 
gente,

Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, 

Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,

Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, 

Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos 
nos homens, 

Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de 
nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.

Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,

E não tivesse mais irmandade com as coisas

Senão uma despedida, tomando-se esta casa e este lado 
da rua 

A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida 
apitada 

De dentro da minha cabeça, 

E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos 
na ida.

Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu. 

Estou hoje dividido entre a lealdade que devo 

À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,

E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo. 

Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada. 

A aprendizagem que me deram, 

Desci dela pela janela das traseiras da casa,

Fui até ao campo com grandes propósitos. 

Mas lá encontrei só ervas e árvores, 

E quando havia gente era igual à outra. 

Saio da janela, sento-me numa cadeira.
Em que hei-de 
pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? 

Ser o que penso?
Mas penso ser tanta coisa! 

E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode 
haver tantos!

Génio?
Neste momento

Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,

E a história não marcará, quem sabe?, nem um, 

Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras. 

Não, não creio em mim.

Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas 
certezas!

Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos 
certo?

Não, nem em mim …

Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo 

Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?

Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas
– 
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -, 

E quem sabe se realizáveis,

Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?

O mundo é para quem nasce para o conquistar 

E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que 
tenha razão. 

Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez. 

Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que 
Cristo, 

Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu. 

Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,

Ainda que não more nela; 

Serei sempre o que não nasceu para isso; 


Serei sempre só o que tinha qualidades; 

Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de 
uma parede sem porta, 

E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira, 

E ouviu a voz de Deus num poço tapado. 

Crer em mim? Não, nem em nada.

Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente 

O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo, 

E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.

Escravos cardíacos das estrelas,

Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama; 

Mas acordamos e ele é opaco,

Levanta-mo-nos e ele é alheio, 

Saímos de casa e ele é a terra inteira,

Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena; 

Come chocolates! 

Olha que não há mais metafisica no mundo senão chocolates. 

Olha que as religiões todas não ensinam mais do que 
a confeitaria.

Come, pequena suja, come! 

Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que 
comes! 

Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de 
estanho,

Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)


Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei 

A caligrafia rápida destes versos, 

Pórtico partido para o Impossível.

Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem 
lágrimas, 

Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas, 

E fico em casa sem camisa. 

(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,

Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,

Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta, 

Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida, 

Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua, 

Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais, 

Ou não sei quê moderno – não concebo bem o quê -, 

Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que 
inspire!

Meu coração é um balde despejado. 

Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco

A mim mesmo e não encontro nada. 

Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta. 

Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam, 

Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam, 

Vejo os cães que também existem,

E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,

E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei, e até cri,

E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.

Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira, 

E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses 
nem cresses 

(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer 
nada disso); 

Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem 
cortam o rabo 

E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.

Fiz de mim o que não soube, 

E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado. 

Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, 
e perdi-me. 

Quando quis tirar a máscara, 

Estava pegada à cara. 

Quando a tirei e me vi ao espelho,

Já tinha envelhecido. 

Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha 
tirado.

Deitei fora a máscara e dormi no vestiário 

Como um cão tolerado pela gerência

Por ser inofensivo

E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis, 

Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse, 

E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,

Calcando aos pés a consciência de estar existindo, 

Como um tapete em que um bêbado tropeça 

Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta. 

Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada 

E com o desconforto da alma mal-entendendo.

Ele morrerá e eu morrerei. 

Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos. 

A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos 
também.

Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,

E a língua em que foram escritos os versos. 

Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu. 


Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como 
gente 

Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo 
de coisas como tabuletas, 

Sempre uma coisa defronte da outra, 

Sempre uma coisa tão inútil como a outra, 

Sempre o impossível tão estúpido como o real,

Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de 
mistério da superfície, 

Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem 
outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),

E a realidade plausível cai de repente em cima de mim. 

Semiergo-me enérgico, convencido, humano, 

E vou tencionar escrever estes versos em que digo 
o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los

E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos. 

Sigo o fumo como uma rota própria, 

E gozo, num momento sensitivo e competente, 

A libertação de todas as especulações 

E a consciência de que a metafísica é uma consequência 
de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira

E continuo fumando. 

Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira 

Talvez fosse feliz.) 
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.

O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira 
das calças?). 

Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafisica. 

(O dono da Tabacaria chegou à porta.) 

Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.

Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo 

Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono 

da Tabacaria sorriu.

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Álvaro de Campos – “Lisbon Revisited”

21.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Não: não quero nada. 

Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!

A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!

Não me falem em moral! 

Tirem-me daqui a metafísica!

Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas 

Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!)

Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica. 

Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.

Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável? 

Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa? 

Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade. 

Assim, como sou, tenham paciência!

Vão para o diabo sem mim,

Ou deixem-me ir sozinho para o diabo! 

Para que havemos de ir juntos? 

Não me peguem no braço! 

Não gosto que me peguem no braço.
Quero ser sozinho, 

Já disse que sou sozinho! 

Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!

Ó céu azul- o mesmo da minha infância -,

Eterna verdade vazia e perfeita! 

Ó macio Tejo ancestral e mudo, 

Pequena verdade onde o céu se reflecte! 

Ó mágoa revisitada,
Lisboa de outrora de hoje!

Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo …

E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

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Álvaro de Campos – “Poema em linha recta”

21.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenha calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pa

gar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenha agachado,
Para fora 

da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que, contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos, mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

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História 161 – “A lenda do convento das Mercês”

29.02.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

História 161 – “A lenda do Convento das Mercês.

Uma história que é uma lenda contada por Fernanda Frazão na sua obra “Lendas Portuguesas”.

Na ilha da Madeira houve em tempos um convento de capuchinhos, a cuja fundação está ligada uma lenda cheia de milagres e maravilhas.
Havia na ilha uma rica proprietária, D. Isabel de França — casada com Gaspar Berenguer de Andrade —, que se confessava habitualmente ao padre Ribeiro. Este há muito que tinha na ideia a fundação de uma casa de religiosas, em certo local deserto da ilha, e pediu à sua confessada que subsidiasse a obra.
D. Isabel, porém, alegava que só poderia contribuir com os terrenos, uma vez que tudo o resto era administrado pelo marido, homem avarento e pouco piedoso. Era sincera a senhora e, por isso, ficou preocupada por não poder satisfazer aquele desejo do religioso.
Uma noite aconteceu-lhe sonhar e ter uma visão de Nossa Senhora das Mercês. Dizia-lhe a Virgem:
– Isabel, quero o meu convento!…
Ó minha Nossa Senhora, não tenho dinheiro para dar, bem o sabeis!
Faz como quiseres, Isabel, dá até a tua camisa, mas faz-me esse convento!…
Antes que a senhora pudesse replicar, a Virgem desapareceu do seu sonho. Impressionadíssima com aquela aparição, D. Isabel decidiu ir contra a vontade do marido e aplicar na obra pedida todos os seus rendimentos pessoais.
O Demo, porém, estava apostado em impedir a fundação daquele mosteiro e, por intermédio de D. Gaspar, arranjou modos de mover o governador do bispado a dificultar, senão proibir, aquela obra. Assim, quando foi pedida autorização para iniciar a pia obra, o projecto foi recusado.
A Virgem das Mercês veio então em auxílio de D. Isabel e do padre Ribeiro: indo o bispo de viagem a Porto Santo, fez levantar um tão medonho temporal no mar que a embarcação esteve em via de se afundar.
O clérigo, meio morto de pavor, lembrou-se subitamente da sua recusa em autorizar a fundação do mosteiro e, logo ali, prometeu proteger o projecto se o mar amainasse. Nossa Senhora, que estava à espera disto mesmo, imediatamente ordenou ao mar que se acalmasse e este tornou-se num lago remançoso, espelhado de sol.
O clérigo cumpriu a sua promessa, mas o Demo não desistiu de levar a sua avante. Uma vez aplainadas as dificuldades de carácter religioso, começaram as seculares: o governador da ilha recusou terminantemente a autorização do convento.
Novamente vem a Virgem em auxílio do seu projecto. Este governador da Madeira era considerado herege por alguns senhores da ilha, mas, até então, a sua autoridade era indiscutível e ninguém se atrevera a contestá-la. De súbito, os grandes senhores da Madeira puseram-se de acordo quanto aos abusos de autoridade perpetrados pelo governador e tramaram uma conjura para o afastarem do cargo. Mandaram então uma embaixada ao Rei, em Portugal, e tão bem conduziram o assunto que o governador foi afastado do seu cargo.
Entretanto, a construção do edifício tora iniciada e as obras corriam em bom andamento. O Demo, desesperado, fez a terceira tentativa para frustrar a obra das Mercês: acabaram-se os recursos materiais de D. Isabel. A senhora deu voltas à cabeça, fez contas e mais contas com os feitores, mas não conseguiu nem mais uma moeda dos seus rendimentos.
Novamente os sonhos, provocados pela patrona da obra, vieram em auxílio de D. Isabel. Certa noite em que estava nestas aflições, adormeceu de cansaço e sonhou que em determinado local do seu jardim havia ouro enterrado, o suficiente para terminar a obra do mosteiro.
Na manhã seguinte, com o coração em alvoroço, dirigiu-se ao cantinho do sonho e começou a cavar às escondidas de toda a gente. Tão absorvida estava nesse trabalho que nem reparou que D. Gaspar se aproximava pé ante pé para ver o que estava ela fazendo, precisamente na altura em que a enxada batia num objecto bem sólido e sonante.
D. Gaspar percebeu rapidamente, com aquela intuição própria dos avaros, que o objecto em que tocara a enxada era um cofre, sem dúvida cheio de ouro, e apressou-se a exigi-lo para si.
Apanhada de surpresa, D. Isabel entregou o cofre ao marido, que, estupefacto, o encontrou cheio de carvão. D. Gaspar desiludido com o fraco achado, virou costas e foi à sua vida. Imediatamente o carvão se tornou em ouro e a devora senhora o entregou ao padre Ribeiro para a conclusão da obra.
Assim que tudo ficou pronto, instalaram-se as freiras e convocaram o capítulo para assentarem na regra a seguir.
Prestes a optarem por uma ordem rica, nova maravilha veio decidir a sorte do convento das Mercês: a terra começou a rugir e a tremer ameaçando destruir a obra que tantos sacrifícios custara. E as freiras, convictas de que era vontade de Deus, optaram então por uma regra de pobreza, ordem esta que durou enquanto o convento se manteve em funcionamento.
Conta-se ainda, deste convento que existiu na Madeira, que uma certa personagem de grande virtude vira durante muitas noites, naqueles sítios ermos, uma luz alumiando uma Virgem esplendorosa assaltada por legiões de demónios.

Ouvimos a lenda do Convento das Mercês, escrita por Fernanda Frazão.

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Poesia 51 – Casimiro de Brito (3)

14.09.2011 | Produção e voz: Luís Gaspar

Mais um programa de poesia erótica, o terceiro, com poesia de Casimiro de Brito.
Há quem diga, e quem sou eu para duvidar, que Casimiro de Brito e David Mourão-Ferreira são os dois grandes poetas do erotismo, na poesia portuguesa.
Até pode ser verdade, agora o que nem um nem o outro são, apenas, trovadores do erotismo. Como poetas, são muito mais do que isso.
Se quer ler o texto do programa e dos poemas, clique AQUI.

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História 157 – “A rainha orgulhosa”

24.08.2011 | Produção e voz: Luís Gaspar

Vamos ouvir uma história tradicional. Recolheu-a Consiglieri Pedroso e foi publicada na sua obra “Contos populares portugueses”
Se queres ler a história enquanto a ouves, clica AQUI.

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História 156 – “O Rei vai nu”

17.08.2011 | Produção e voz: Luís Gaspar

Depois de muitas semanas sem novidades, vou retomar a leitura das histórias e lendas. Porém, regresso com uma história que não é portuguesa, coisa rara por aqui, mas de autoria de um escritor dinamarquês, muito conhecido: Hans Christian Andersen.
Ele escreveu muitas histórias famosas como O Patinho Feio, A Pastora e o Limpa chaminés, O João Pateta e muitas outras e vamos ouvir neste programa, uma delas. Há muitas traduções, cada uma dando à mesma história, títulos diferentes: O Rei vai nu, As roupas novas do Imperador, O fato novo do Sultão, A vestimenta nova do imperador, etc., etc.
Até a história tem algumas pequenas diferenças. Vou ler uma versão que veio publicada no Clube das Histórias, numa adaptação da versão publicada pela Editora Ambar.
Vocês não conhecem o Clube das Histórias? Não acredito! Então, vão ao Google e procurem. Mas primeiro ouçam a história “As Roupas Novas do Imperador”, escrita por Hans Christian Andersen.
Se queres ler o texto da história clica AQUI.

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“Vinte Poemas de Amor” (4) de Pablo Neruda

20.05.2011 | Produção e voz: Luís Gaspar

Quarta e última parte da obra de Pablo Neruda “Vinte Poemas de Amor” com os seguintes poemas: “No meu céu ao crepúsculo…”, “Pensando, enredando sombras…”, “Aqui te amo…”, “Moça morena e ágil…” e “Posso escrever os versos…”.
Se deseja acompanhar a audição dos poemas com a leitura dos textos, clique AQUI.

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“Vinte Poemas de Amor” (3) de Pablo Neruda

18.05.2011 | Produção e voz: Luís Gaspar

Terceira parte (cinco poemas) de “Vinte Poemas de Amor” de Pablo Neruda: “Quase fora do céu…”,”Para o meu coração…”,”Eu fui marcando…”, “Brincas todos os dias…” e “Gosto de ti calada…”.
Se deseja acompanhar a audição com a leitura ou “baixar” o texto, clique AQUI

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“Vinte Poemas de Amor” (2) de Pablo Neruda.

17.05.2011 | Produção e voz: Luís Gaspar

Segunda Parte de “Vinte Poemas de Amor” de Pablo Neruda constituída por cinco poemas: “Recordo-te como eras…”, “Inclinado nas tardes…”, “Abelha branca zumbes…”, “Ébrio de Terebintina…” e “Também este crepúsculo…”.
Se deseja acompanhar a audição com a leitura dos textos ou “baixa-los”, clique AQUI

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“Vinte Poemas de Amor” (1) de Pablo Neruda

14.05.2011 | Produção e voz: Luís Gaspar

Primeira Parte desta obra de Pablo Neruda composta por cinco poemas:
“Corpo de mulher…”, “Na sua chama mortal…”, “Ah, vastidão dos pinheiros…”, “É a manhã cheia…” e “Para que tu me ouças…”.
Se quiser ler os poemas enquanto os ouve, ou fazer o seu download, clique AQUI.

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Palavras 158 – Adolfo Casais Monteiro

04.01.2011 | Produção e voz: Luís Gaspar

Ouviremos Palavras de Ouro neste programa com a poesia de Adolfo Casais Monteiro.
Adolfo Victor Casais Monteiro nasceu no Porto em 1908 e morreu em São Paulo em 1972.
A sua juventude foi típica de um filho da burguesia portuense ilustrada e liberal, cedo revelando propensão artística.
Se quiser ler o texto do programa enquanto o ouve ou copiar os poemas, clique AQUI.

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Palavras 157 – Natércia Freire

15.12.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar

Hoje, o brilho da poesia de Natércia Freire. Foi poeta, contista, jornalista e mulher solitária. Escritora durante os anos em que o Estado Novo queria a mulher em casa. Ostracizada pela Revolução de Abril, Natércia Freire acabou por cair num silêncio imerecido. Deixa um legado poético que merece ser (re)descoberto.

Se desejar ler o texto do programa enquanto o ouve, clique AQUI

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Palavras 156- Alfredo Guisado

03.12.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar

Neste programa, a poesia de Alfredo Guisado, um autor um pouco esquecido.

Alfredo Guisado, poeta português de ascendência galega, nasceu em Lisboa a 30 de Outubro de 1891. Formou-se em 1921 na Faculdade de Direito de Lisboa e em 1922 entrou para a Associação dos Arqueólogos Portugueses. Foi militante do Partido Republicano Português, colaborou no jornal “O Debate” e foi subdiretor do jornal República, o órgão da oposição à ditadura de Salazar.


Se deseja ler o texto do programa enquanto o ouve, clique AQUI

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Palavras 155 – Teófilo Braga

25.11.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar

Ouviremos, neste programa, as palavras de ouro de Teófilo Braga, autor que nos deixou uma obra monumental nos domínios da poesia, história e crítica literárias, historiografia, etnografia, filosofia e sociologia, política, ficção e tradução.
Teófilo Braga nasceu em Ponta Delgada, ilha de Santa Maria, Açores.
Depois de ter feito os primeiros estudos no liceu de Ponta Delgada, veio para o continente em 1861, seguindo para Coimbra, em cuja Universidade fez com distinção o curso de Direito, que completou em 1867, recebendo o grau de doutor em Julho do ano seguinte.
Se quiser lero otexto do programa enquanto o ouve, clique AQUI.

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Palavras 154 – Al Berto

17.11.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar

Neste programa vamos ouvir poesia de Al Berto
Al Berto, de seu nome completo Alberto Raposa Pidwell Tavares nasceu em Coimbra a 11 de Janeiro de 1948 e morreu em Lisboa, com 49 anos.
Se quiser ler os texto do programa enquanto o ouve ou copiar alguns dos poemas, clique AQUI. 


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Palavras 152 – Carlos de Oliveira

14.10.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar

Este programa vai ser preenchido com as palavras douradas de Carlos de Oliveira.
Carlos de Oliveira nasceu no Belém do Pará, a 10 de Agosto de 1921 e faleceu em Lisboa a 1 de Julho de 1981.
Filho de emigrantes portugueses, só viveu no Brasil os dois primeiros anos de vida: em 1923, os seus pais regressam a Portugal, acabando por se fixar na região de Cantanhede, mais precisamente na aldeia de Febres, onde seu pai exercia medicina.
Se quiser ler o texto do programa enquanto o ouve, clique AQUI.

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Poesia 49 – Luísa Demétrio Raposo

10.09.2010 | Produção e voz: Luís Gaspar

“O erotismo, 
por vezes por capricho humano, 
é usado com certeza ornamental…
Mas…
Como de todas as certezas nasce o engano, só a incerteza é puramente natural! 
O erotismo dentro, em nós invoca…
Na sua vastíssima boca,
uma expressão única e sexualmente louca…! “
Palavras de Luísa Demétrio Raposo, a autora cuja poesia vamos ouvir neste programa.

Se deseja ler o programa enquanto o ouve, clique AQUI

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