Helena Maltez – “H2O”
01.02.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar
Helena Maltez, nasceu em África e dela ainda sente saudade e nostalgia. Há muito que reside na nossa cidade dos canais. Diz-se “não poeta”, mas confessa que vive com a Poesia.
01.02.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar
és símbolo químico
que brota da terra
água fresca tatuada na rocha
dás vida à vida
discreta quando habitas nas nuvens,
no horizonte és energia
e fonte do ser.
ouves-me nos desejos
da palavra que não é escrita
circulas no meu sangue e vibras,
deixas que te sinta no coração.
imóvel olho-te
mostras-te rainha no mar,
princesa encantada no rio
que aquece a alma, nos lagos
da tua voz escorrem
hesitantes ternas sombras
olho a tua tonalidade
sinto o desperdício da humanidade
hoje és lágrima
no meu rosto…
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01.02.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar
escutei a tua voz, dentro da melodia
chegou transparente, agarrada à emoção
foi arte pendida num mistério precioso
golfada fresca num trabalho de beleza
foi matéria atenta,
júbilo inesquecível.
potência da razão resplandecente
veio abraçada às palavras,
ritmada, pausada,
foi símbolo delicado que fez luz,
loucura desabrochada de esplendor
viajou triunfante nos textos
sem medos, onde a música se fundiu
até à dilatação no éter do fascínio
irrompeu ramificada
na inocência dos sentires.
debruçou-se inundada
sobre o leve peso dos sonhos,
reclamou à sabedoria
a teia dos gestos etéreos
foi profunda, misteriosa, tocante..
a tua voz vibrou
fez crescer a palavra dita!
(Este poema foi dedicado ao “Lugar aos Outros” do Estúdio Raposa)
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01.02.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar
bate à porta o silêncio, mando-o entrar,
nas paredes, as sombras reflectidas por um candeeiro
de mesa, tomam cor. arrepio-me, sinto frio. cinzento, o
silêncio senta-se ao meu lado, segura as minhas mãos
gélidas e roxas, sente o meu medo e acaricia-me.
descubro nas sombras, um rosto delineado, parece-me
o teu, com os olhos cheios de brilho, num tom esverdeado.
és tu o silêncio!
o silêncio que escuto e me abraça.
irrompem no meu corpo palavras tuas, misturadas com
o tilintar do frio que há dentro de mim.
entramos no nevoeiro dos sonhos, eu e o silêncio,
de mãos dadas perseguimos um rasto de luz, construído
de objectos de um tempo que cresce.
procuro esse tempo, a luz do teu olhar mostra-mo
murcho, disforme e carregado de sentires.
flutuamos unidos, no crepúsculo embriagado
das noites de ninguém. pressenti nos teus gestos o quanto amei
e embalamo-nos a dor sem medo de nos destruirmos.
fico para sempre ligada ao silêncio como um pacto de
sangue, alimentamo-nos de secretos desejos.
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01.02.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar
a noite entrou, encantada
adormeceu-me o corpo
envolveu-se nos meus sonhos
fez-me sentir-te em ti
tremer junto ao teu corpo
beijar teus lábios demoradamente
descobrir o teu gosto
com meu corpo inteiro
fomos sombras ocultas
cheias de movimento
desejos penetrantes e agitados
fomos nós num momento
da duvida que sonha a certeza
o desequilíbrio na infame consciência
a noite fez-nos sentir
o silêncio vestido de branco
a ausência irreal
em forma de sonho
viajámos juntos em sentimentos
e o teu corpo fundiu no meu
de alto a baixo
o suspiro violento
numa voraz paixão
que nos alimentou as veias
da noite que cresceu como louca,
brotavam palavras, nas entrelinhas
um intenso amo-te
no duelo de quem ama
a noite acordou-me
abandonou-me sem sonhos
tu não te encontravas lá
só a cama, branca, amarrotada…
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