Nota biográfica

Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta e escritor português. É considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa e da Literatura Universal, muitas vezes comparado com Luís de Camões.

Fernando Pessoa – “A morte é a curva…”

08.07.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar

A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.

A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “Mar Português”

31.05.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!


Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma nao é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “Não venhas…”

02.04.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar

Não venhas sentar-te à minha frente, nem a meu lado;

Não venhas falar, nem sorrir.

Estou cansado de tudo, estou cansado,

Quero só dormir.

Dormir até acordado, sonhando

Ou até sem sonhar,

Mas envolto num vago abandono brando

A não ter que pensar.

Nunca soube querer, nunca soube sentir, até

Pensar não foi certo em mim. 

Deitei fora entre urtigas o que era a minha fé,

Escrevi numa página em branco, «Fim».

As princesas incógnitas ficaram desconhecidas,

Os tronos prometidos não tiveram carpinteiro.

Acumulei em mim um milhão difuso de vidas, 

Mas nunca encontrei parceiro.

Por isso, se vieres, não te sentes a meu lado, nem fales.

Só quero dormir, uma morte que seja 

Uma coisa que me não rale nem com que tu te rales
—
Que ninguém deseja nem não deseja.

Pus o meu Deus no prego. Embrulhei em papel pardo 

As esperanças e ambições que tive,

E hoje sou apenas um suicídio tardo,

Um desejo de dormir que ainda vive.

Mas dormir a valer, sem dignificação nenhuma, 

Como um barco abandonado,

Que naufraga sozinho entre as trevas e a bruma 

Sem se lhe saber o passado.

E o comandante do navio que segue deveras 

Entrevê na distância do mar

O fim do último representante das galeras,

Que não sabia nadar.

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “Ilumina-se a Igreja por Dentro da Chuva”

30.11.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia,
E cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça…

Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso,
E as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido por dentro …

O esplendor do altar-mor é o eu não poder quase ver os montes
Através da chuva que é ouro tão solene na toalha do altar…

Soa o canto do coro, latino e vento a sacudir-me a vidraça
E sente-se chiar a água no facto de haver coro…

A missa é um automóvel que passa
Através dos fiéis que se ajoelham em hoje ser um dia triste…
Súbito vento sacode em esplendor maior
A festa da catedral e o ruído da chuva absorve tudo
Até só se ouvir a voz do padre água perder-se ao longe
Com o som de rodas de automóvel…

E apagam-se as luzes da igreja
Na chuva que cessa …

Fernando Pessoa, in “Cancioneiro”

Facebooktwittermailby feather

Álvaro de Campos – “A Tabacaria” (2)

30.07.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Este poema de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) foi declamado por mim, pela primeira vez, no dia 28 de Abril de 2006, incluído no programa Palavras de Ouro nº 41. Volto a declama-lo agora, passados 6 anos.

Não sou nada. 

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,

Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém 
sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),

Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por 
gente,

Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,

Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,

Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, 

Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos 
nos homens,

Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de 
nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.

Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,

E não tivesse mais irmandade com as coisas

Senão uma despedida, tomando-se esta casa e este lado 
da rua

A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida 
apitada 

De dentro da minha cabeça,

E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos 
na ida.

Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.

Estou hoje dividido entre a lealdade que devo

À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,

E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.

Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.

A aprendizagem que me deram,

Desci dela pela janela das traseiras da casa, 

Fui até ao campo com grandes propósitos.

Mas lá encontrei só ervas e árvores,

E quando havia gente era igual à outra.

Saio da janela, sento-me numa cadeira.
Em que hei-de 
pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?

Ser o que penso?
Mas penso ser tanta coisa! 

E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode 
haver tantos!

Génio?
Neste momento

Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu, 

E a história não marcará, quem sabe?, nem um,

Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.

Não, não creio em mim.

Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas 
certezas! 

Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos 
certo?

Não, nem em mim …


Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo 

Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?

Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas
– 
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,

E quem sabe se realizáveis, 

Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?

O mundo é para quem nasce para o conquistar

E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que 
tenha razão.

Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez. 

Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que 
Cristo,

Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu. 

Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,

Ainda que não more nela;

Serei sempre o que não nasceu para isso; 

Serei sempre só o que tinha qualidades; 

Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de 
uma parede sem porta,

E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,

E ouviu a voz de Deus num poço tapado.

Crer em mim? Não, nem em nada.

Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente

O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo, 

E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha. 

Escravos cardíacos das estrelas,

Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama; 

Mas acordamos e ele é opaco,

Levantamo-nos e ele é alheio, 

Saímos de casa e ele é a terra inteira,

Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;

Come chocolates!

Olha que não há mais metafisica no mundo senão chocolates.

Olha que as religiões todas não ensinam mais do que 
a confeitaria.

Come, pequena suja, come!

Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que 
comes!

Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de 
estanho,

Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)


Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei 

A caligrafia rápida destes versos,

Pórtico partido para o Impossível.

Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem 
lágrimas,

Nobre ao menos no gesto largo com que atiro

A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,

E fico em casa sem camisa.

(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,

Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,

Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida, 

Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,

Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,

Ou não sei quê moderno – não concebo bem o quê -, 

Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que 
inspire!

Meu coração é um balde despejado.

Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco

A mim mesmo e não encontro nada.

Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta. 

Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,

Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam, 

Vejo os cães que também existem, 

E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,

E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri, 

E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.

Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,

E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses 
nem cresses 

(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer 
nada disso); 

Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem 
cortam o rabo 

E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.

Fiz de mim o que não soube,

E o que podia fazer de mim não o fiz. 

O dominó que vesti era errado.

Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, 
e perdi-me. 

Quando quis tirar a máscara,

Estava pegada à cara.

Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.

Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha 
tirado.

Deitei fora a máscara e dormi no vestiário

Como um cão tolerado pela gerência 

Por ser inofensivo

E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,

Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse,

E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,

Calcando aos pés a consciência de estar existindo,

Como um tapete em que um bêbado tropeça

Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.

Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada 

E com o desconforto da alma mal-entendendo.

Ele morrerá e eu morrerei.

Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.

A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos 
também.

Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,

E a língua em que foram escritos os versos.

Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu. 


Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como 
gente

Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo 
de coisas como tabuletas, 

Sempre uma coisa defronte da outra,

Sempre uma coisa tão inútil como a outra, 

Sempre o impossível tão estúpido como o real,

Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de 
mistério da superfície,

Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem 
outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),

E a realidade plausível cai de repente em cima de mim. 

Semiergo-me enérgico, convencido, humano,

E vou tencionar escrever estes versos em que digo 
o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los

E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.

Sigo o fumo como uma rota própria,

E gozo, num momento sensitivo e competente,

A libertação de todas as especulações

E a consciência de que a metafísica é uma consequência 
de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira

E continuo fumando.

Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira 
Talvez fosse feliz.) 

Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.

O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira 
das calças?).

Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafisica. 

(O dono da Tabacaria chegou à porta.) 

Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.

Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo

Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono 
da Tabacaria sorriu.

Facebooktwittermailby feather

Alberto Caeiro – “A espantosa…”

02.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.

Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.
Hei de escrever muitos mais, naturalmente.
Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada.
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo,
Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer coisa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.

De, Alberto Caeiro in Poemas Inconjuntos, Vol. I , Obras Completas, de
Fernando Pessoa, pág. 219/220

Facebooktwittermailby feather

Álvaro de Campos – “Ao volante do Chevrolet…”

21.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra, 

Ao luar o ao sonho, na estrada deserta, 

Sozinho guio, guio quase devagar, e um pouco 

Me parece, ou me forço um pouco para que me pareça, 

Que sigo por outra estrada, por outro sonho, por outro mundo, 

Que sigo sem haver Lisboa deixada ou Sintra a que ir ter, 

Que sigo, e que mais haverá em seguir senão não parar mas
seguir?

Vou passar a noite a Sintra por não poder passá-la em Lisboa,

Mas, quando chegar a Sintra, terei pena de não ter ficado em Lisboa. 

Sempre esta inquietação sem propósito, sem nexo, sem 
consequência,

Sempre, sempre, sempre,

Esta angústia excessiva do espírito por coisa nenhuma, 

Na estrada de Sintra, ou na estrada do sonho, ou na estrada da vida …

Maleável aos meus movimentos subconscientes do volante,

Galga sob mim comigo o automóvel que me emprestaram. 

Sorrio do símbolo, ao pensar nele, e ao virar à direita. 

Em quantas coisas que me emprestaram eu sigo no mundo! 

Quantas coisas que me emprestaram guio como minhas! 

Quanto que me emprestaram, ai de mim!, eu próprio sou!

À esquerda o casebre – sim, o casebre – à beira da estrada.
À direita o campo aberto, com a lua ao longe. 

O automóvel, que parecia há pouco dar-me liberdade, 

É agora uma coisa onde estou fechado, 

Que só posso conduzir se nele estiver fechado, 

Que só domino se me incluir nele, se ele me incluir a mim.

À esquerda lá para trás o casebre modesto, mais que modesto.

A vida ali deve ser feliz, só porque não é a minha. 

Se alguém me viu da janela do casebre, sonhará:
Aquele é que é feliz. 

Talvez à criança espreitando pelos vidros da janela do andar que está em cima.

Fiquei (com o automóvel emprestado) como um sonho, uma fada real. 

Talvez à rapariga que olhou, ouvindo o motor, pela janela da 
cozinha

No pavimento térreo, 

Sou qualquer coisa do príncipe de todo o coração de rapariga,

E ela me olhará de esguelha, pelos vidros, até à curva em que 
me perdi.

Deixarei sonhos atrás de mim, ou é o automóvel que os deixa?

Eu, guiador do automóvel emprestado, ou o automóvel 
emprestado que eu guio?

Na estrada de Sintra ao luar, na tristeza, ante os campos e a
noite,

Guiando o Chevrolet emprestado desconsoladamente, 

Perco-me na estrada futura, sumo-me na distância que alcanço, 

E, num desejo terrível, súbito, violento, inconcebível,

Acelero …

Mas o meu coração ficou no monte de pedras, de que me desviei
ao vê-lo sem vê-lo,


À porta do casebre, 
O meu coração vazio,
O meu coração insatisfeito,

O meu coração mais humano do que eu, mais exacto que a vida.

Na estrada de Sintra, perto da meia-noite, ao luar, ao volante,

Na estrada de Sintra, que cansaço da própria imaginação, 

Na estrada de Sintra, cada vez mais perto de Sintra,

Na estrada de Sintra, cada vez menos perto de mim …

Facebooktwittermailby feather

Álvaro de Campos – “Lisbon Revisited”

21.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Não: não quero nada. 

Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!

A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!

Não me falem em moral! 

Tirem-me daqui a metafísica!

Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas 

Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!)

Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica. 

Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.

Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável? 

Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa? 

Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade. 

Assim, como sou, tenham paciência!

Vão para o diabo sem mim,

Ou deixem-me ir sozinho para o diabo! 

Para que havemos de ir juntos? 

Não me peguem no braço! 

Não gosto que me peguem no braço.
Quero ser sozinho, 

Já disse que sou sozinho! 

Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!

Ó céu azul- o mesmo da minha infância -,

Eterna verdade vazia e perfeita! 

Ó macio Tejo ancestral e mudo, 

Pequena verdade onde o céu se reflecte! 

Ó mágoa revisitada,
Lisboa de outrora de hoje!

Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo …

E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

Facebooktwittermailby feather

Álvaro de Campos – “Poema em linha recta”

21.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenha calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pa

gar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenha agachado,
Para fora 

da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que, contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos, mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Facebooktwittermailby feather

Álvaro de Campos – “Dá-me lírios”

21.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Dá-me lírios, lírios,
E rosas também.
Mas se não tens lírios
Nem rosas a dar-me,
Tem vontade ao menos
De me dar os lírios
E também as rosas.
Basta-me a vomtade,
Que tens, se a tiveres,
De me dar os lírios
E as rosas também,
E terei os lírios –
Os melhores lírios –
E as melhores rosas
Sem receber nada,
a não ser a prenda
Da tua vontade
De me dares lírios
E rosas também.

(PESSOA: 1888-1935) Poesia

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “Vão breves…”

15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Vão breves passando
Os dias que tenho.
Depois de passarem
Já não os apanho.

De aqui a tão pouco
A vida acabou.
Vou ser um cadáver
Por quem se rezou.

E entre hoje e esse dia
Farei o que fiz:
Ser qual quero eu ser,
Feliz ou infeliz.

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “Poeta fingidor”

15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “Não digas nada”

15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Não digas nada!
Não, nem a verdade!
Há tanta suavidade
Em nada se dizer
E tudo se entender
Tudo metade
De sentir e de ver…
Não digas nada!
Deixa esquecer.

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vâ
Toda esta viagem
Até onde quis.
Ser quem me agrada…
Mas ali fui feliz…
Não digas nada.

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “Un soir à Lima”

15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Vem a voz da radiofonia e dá

A notícia num arrastamento vão:

«A seguir

Un soir à Lima»…

Cesso de sorrir…

Pára-me o coração…

E, de repente, 

Essa querida e maldita melodia 

Rompe do aparelho inconsciente. 

Numa memória súbita e presente

Minha alma se extravia…. 

O grande luar da África fazia 

A encosta arborizada alvinitente. 



A sala em nossa casa era ampla, e estava 

Posta onde, até ao mar, tudo se dava 

À clara escuridão do luar ingente…

Mas só eu, à janela.

Minha mãe estava ao piano

E tocava. 

Exactamente 
«Un Soir à Lima». 



Meu Deus, que longe, que perdido, que isso está! 

Que é do seu alto porte? 

Da sua voz continuamente acolhedora? 

Do seu sorriso ‘carinhoso e forte? 

O que hoje há 

Que mo recorda é isto que oiço agora 
     
Un Soir à Lima.

Prossegue na radiofonia 

A mesma, a mesma melodia 
O mesmo
«Un Soir à Lima». 



Seu cabelo grisalho era tão lindo 

Sob a luz 

E eu que nunca julguei que ela morresse 

E me deixasse entregue a quem eu sou! 

Morreu, mas eu sou sempre o seu menino. 

Ninguém é homem para a sua mãe! 


(…)



Onde é que a hora, e o lar e o amor está 

Quando, mãe, mãe, tocavas 

Un Soir à Lima? 


E num recanto de cadeira grande

Minha irmã, 

Pequena e encolhidinha 

Não sabe se dorme se não.

(…)





Meu padrasto 

(Que homem! que alma! que coração!)

Reclinava o seu corpo basto

De atleta sossegado e são 

Na poltrona maior 

E ouvia, fumando e cismando,

E o seu olhar azul não tinha cor. 

A minha irmã, criança,

No recanto da sua poltrona

Enrolada, ouvia a dormir

E a sorrir 

Que estava alguém tocando

Se calhar uma dança.



E eu, de pé, ante a janela 

Via todo o luar de toda a África inundar

A paisagem e o meu sonhar. 



Onde tudo isto está! 

Un Soir à Lima, 

Quebra-te, coração! 


17 – 9 – 1935

In Poesia 1931-1935 e não datada , Assírio & Alvim, ed. 2006
Fernando Pessoa
[UN SOIR À LIMA]

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “O menino da sua mãe”

15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

menino13

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
Duas de lado a lado
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
e cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
“o menino da sua mãe”

Caiu lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lha a mãe.
Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embaínhada
De um lenço…
Dera-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há prece:

“Que volte cedo e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “Mostrengo”

15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
A roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
 E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»

«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»

Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!» 

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “Tenho dó…”

15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Tenho dó das estrelas
Luzindo há tanto tempo,
Há tanto tempo …
Tenho dó delas.

Não haverá um cansaço
Das coisas,
De todas as coisas,
Como das pernas ou de um braço?

Um cansaço de existir,
De ser,
Só de ser,
O ser triste brilhar ou sorrir …

Não haverá, enfim,
Para as coisas que são,
Não a morte, mas sim
Uma outra espécie de fim,
Ou uma grande razão
Qualquer coisa assim
Como um perdão?

Boiam leves, desatentos,
Meus pensamentos de mágoa,
Como, no sono dos ventos,
As algas, cabelos lentos
Do corpo morto das águas.

Boiam como folhas mortas,
À tona de águas paradas.
São coisas vestindo nadas,
Pós remoinhando nas portas
Das casas abandonadas.

Sono de ser, sem remédio,
Vestígio do que não foi,
Leve mágoa, breve tédio,
Não sei se pára, se flui;
Não sei se existe ou se dói.

4/8/1930
Fernando Pessoa
Cancioneiro

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “Gato…”

15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “Fosse eu…”

15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Fosse eu apenas, não sei onde ou como,
Uma cousa existente sem viver,
Noite de Vida sem amanhecer
Entre as sirtes do meu dourado assomo …

Fada maliciosa ou incerto gnomo
Fadado houvesse de não pertencer
Meu intuito gloriola com ter
A árvore do meu uso o único pomo …

Fosse eu uma metáfora somente
Escrita nalgum livro insubsistente
Dum poeta antigo, de alma em outras gamas,

Mas doente, e, num crepúsculo de espadas,
Morrendo entre bandeiras desfraldadas
Na última tarde de um império em chamas …

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “De aqui a pouco…”

15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

De aqui a pouco acaba o dia.
Não fiz nada.
Também que coisa é que faria?
Fosse a que fosse, estava errada.

De aqui a pouco a noite vem.
Chega em vão
Para quem como eu só tem
Para o contar o coração.

E após a noite e irmos dormir
Torna o dia.
Nada farei senão sentir.
Também que coisa é que faria?

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “É boa…”

15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

papoula13

É boa!
Se fossem malmequeres!
E é uma papoula
Sozinha, com esse ar de “queres?”

Veludo da natureza tola.
Coitada!
Por ela
Saí da marcha pela estrada.

Não a ponho na lapela.
Oscila ao leve vento, muito
Encarnada a arroxear.
Deixei no chão o meu intuito.
Caminharei sem regressar.

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “Do meio da rua…”

15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Do meio da rua
x(Que é, aliás, o infinito)
Um pregão flutua,
Música num grito…

Como se no braçox
Me tocasse alguém,
Viro-me num espaço
Que o espaço não tem.

Outrora em criançax
0 mesmo pregão… xNão lembres…
Descansa,
Dorme, coração!…

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “Meus versos são…”

15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Meus versos são meu sonho dado,
Quero viver, não sei viver,x
Por isso anónimo e encantado,
Canto para me pertencer.

0 que soubemos, o perdemos.x
0 que pensamos já o fomos.x
Ah, e só guardamos o que demos
E tudo é sermos quem não somos.

Se alguém souber sentir meu cantox
Meu canto eu saberei sentir.x
Viverei com minha alma tanto,
Tanto quanto antes vivi.

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “Se tudo o que há é mentira”

15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Se tudo o que há é mentira,
É mentira tudo o que há.
De nada nada se tira,
A nada nada se dá.

Se tanto faz que eu suponha
Uma coisa ou não com fé,
Suponho-a se ela é risonha,
Se não é, suponho que é.

Que o grande jeito da vida
É pôr a vida com jeito.
Fana a rosa não colhida,
Como a rosa posta ao peito.

Mais vale é o mais valer,
Que o resto urtigas o cobrem
E só se cumpra o dever
Para que as palavras sobrem.

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “Agulha”

15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Enfia a agulha,
E ergue do colo,
A costura enrugada.
Escuta: (volto a folha Com desconsolo).
Não ouviste nada.

Os meus poemas, este
E os outros que tenho
São só a brincar.
Tu nunca os leste,
E nem mesmo estranho,
Que ouças sem pensar.

Mas dá-me um certo agrado
Sentir que tos leio
E que ouves sem saber.
Faz um certo quadro.
Dá-me um certo enleio…
E ler é esquecer.

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “Natal”

15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Natal… Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.
 
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
‘Stou só e sonho saudade.
 
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “Som do relógio”

15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

O som do relógio
Tem a alma por fora
Só ele é a noite
E a noite se ignora.

Não sei que distância
Vai de som a som
Soando, no tique,
Do taque do som.

Mas oiço de noite
A sua presênça
Sem ter onde acoite
Meu ser sem ser

Parece dizer
Sempre a mesma coisa
Como o que se senta
E se não repousa

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “Pela rua…”

15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Pela rua já serena
Vai a noite
Não sei do que tenho pena,
Nem se é pena isto que tenho…

Pobres dos que vão sentindo
Sem saber do coração!
Ao longe, cantando e rindo,
Um grupo vai sem razão…

E a noite e aquela alegria
E o que medito a sonhar
Formam uma alma vazia
Que paira na orla do ar…

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “As lentas nuvens…”

15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

As lentas nuvens fazem sono
O céu azul faz bom dormir.
Bóio num íntimo abandono,
À tona de me não sentir.

E é suave, como o correr de água,
O sentir que não alguém,
Não sou capaz de peso ou mágua.
Minha alma é aquilo que não tem.

Que bom. à margem do ribeiro
Saber que é ele que vai indo…
E só em sono eu vou primeiro,
E só em sonho eu vou seguindo.

Facebooktwittermailby feather

Fernando Pessoa – “Não sei ser triste a valer”

15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Não sei ser triste a valer
Nem ser alegre deveras.
Acreditem: não sei ser.
Serão as almas sinceras
Assim também, sem saber?

Ah, ante a ficção da alma
E a mentira da emoção,
Com que prazer me dá calma
Ver uma flor sem razão
Florir sem ter coração!

Mas enfim não há diferença.
Se a flor flore sem querer,
Sem querer a gente pensa.
0 que nela é florescer
Em nós é ter consciência.

Depois a nós como a ela.
Quando o Fado a faz passar,
Surgem as patas do deuses
E a ambos nos vem calcar.

‘Stá bem, enquanto não vêm
Vamos florir ou pensar.

Facebooktwittermailby feather