Fernando Castro Branco – “O céu das gruas”
05.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Fernando de Castro Branco, Mestre em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea, pela FLUP, nasceu em Duas Igrejas, Miranda do Douro, em 1959. "Alquimia das Constelações", o seu primeiro livro de poemas, saiu em 2005. Tem, hoje, vários títulos publicado.
05.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Lázaro Inocêncio do Nascimento,
manobrador de gruas na auto-estrada
transmontana sai do túnel do Marão
para a negra luz do desemprego
e das carências em família. Manobrou
com perícia a cegonha de ferro no céu
da montanha, dialogou com Deus
e com os pássaros sociáveis; olhou
para o fundo de si e concluiu que na terra
ou nas nuvens a vida é sempre abismo
onde a altura é uma questão menor. Hoje
desceu de vez as escadas íngremes,
findou a concessão do troço e do capital,
agora está entregue a si que o mesmo é dizer
ao destino de ninguém. Lázaro do
Nascimento diz que com esta descida
à terra morreu um pouco, e assim à terra
descerá definitivamente em tempo certo
sem estranheza de maior. Não carece
pois o Mestre o ressuscitar por mais
que alastre o pranto das irmãs
e os direitos da quadra. Na ferrugem
definitiva dos materiais o sinal perene
de que não vale a pena o esforço
de retirar os panos uma e outra vez.
(Este poema foi publicado no Jornal “Público” em 25 de Fevereiro de 2012)
Podcast (estudio-raposa-audiocast): Download