“Invisível a meus olhos”, poema de Al-Mu Tamid
10.08.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Beja, Silves, Sevilha e Agmat (Marrocos), este o percurso de um príncipe que viveu no século XI e foi senhor de um dos mais brilhantes reinos muçulmanos da Península. Chamava-se Al-Mu'Tamid Ibn Abbad, era poeta e deixou alguns dos mais belos versos da Literatura árabe. Al-Mu'Tamid nasceu em Beja, foi governador de Silves, cujo castelo tomou em nome do pai, o rei da taifa de Sevilha, a quem mais tarde sucedeu no trono. Ibn Abbad foi o último rei da taifa de Sevilha. Os tempos eram de confronto entre os muçulmanos do sul e os cristãos do norte e a poderosa Sevilha situava-se entre duas sociedades guerreiras. Nesta guerra perdeu-se Al-Mu'Tamid, que morreu exilado em Marrocos.
10.08.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
“Invisível a meus olhos,
Trago-te sempre no coração
Te envio um adeus feito paixão
E lágrimas de pena com insónia.
Inventaste como possuir-me
E eu, o indomável, que submisso vou
ficando! Meu desejo é estar contigo sempre
Oxalá se realize tal desejo!
Assegura-me que o juramento que nos une
Nunca a distância o fará quebrar.
Doce é o nome que é o teu
E aqui fica escrito no poema: Itimad.”
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29.07.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Quem vende a verdade, e a que esquina?
Quem dá a hortelã com que temperá-la?
Quem traz para casa a menina
E arruma as jarras da sala?
Quem interroga os baluartes
E conhece o nome dos navios?
Dividi o meu estudo inteiro em partes
E os títulos dos capítulos são vazios…
Meu pobre conhecimento ligeiro,
Andas buscando o estandarte eloquente
Da filarmónica de um Barreiro
Para que não há barco nem gente.
Tapeçarias de parte nenhuma
Quadros virados contra a parede…
Ninguém conhece, ninguém arruma
Ninguém dá nem pede.
Ó coração epitélico e macio,
Colcha de croché do anseio morto,
Grande prolixidade do navio
Que existe só para nunca chegar ao porto.
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28.07.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Se os que me viram já cheia de graça
Olharem bem de frente para mim,
Talvez, cheios de dor, digam assim:
“Já ela é velha! Como o tempo passa!…”
Não sei rir e cantar por mais que faça!
Ó minhas mãos talhadas em marfim,
Deixem esse fio d’oiro que esvoaça!
Deixem correr a vida até ao fim!
Tenho vinte e três anos! Sou velhinha!
Tenho cabelos brancos e sou crente…
Já murmuro orações… falo sozinha…
E o bando cor-de-rosa dos carinhos
Que tu me fazes, olho-os indulgente.
Como se fosse um bando de netinhos
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27.07.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor, cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
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26.07.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Eu quis um violino no telhado
e uma arara exótica no banho.
Eu quis uma toalha de brocado
e um pavão real do meu tamanho.
Eu quis todos os cheiros do pecado
e toda a santidade que não tenho.
Eu quis uma pintura aos pés da cama
infinita de azul e perspectiva.
Eu quis ouvir ouvir a história de Mira Burana
na hora da orgia prometida.
Eu quis uma opulência de sultana
e a miséria amarga da mendiga.
Eu quis um vinho feito de medronho
de veneno, de beijos, de suspiros.
Eu quis a morte de viver dum sonho
eu quis a sorte de morrer dum tiro.
Eu quis chorar por ti durante o sono
eu quis ao acordar fugir contigo.
Mas tudo o que é excessivo é muito pouco.
Por isso fiquei só, com o meu corpo.
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25.07.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
De repente do riso fez-se pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
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22.07.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
O brinco da tua orelha
Sempre se vai meneando; Gostava de dar um
beijo
Onde o teu brinco o vai dando. Tem um
topázio dourado
Esse brinco de platina;
Um rubi muito encarnado
E uma outra pedra fina.
O que eu sofro quando o vejo Sempre airoso,
meneando! Dava tudo por um bejo
Onde o teu brinco os vai dando
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21.07.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
“Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?”
“Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?”
“Muita coisa mais do que isso.
Fala-me de muitas outras coisas.
De memórias e de saudades
E de coisas que nunca foram.
“Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti.”
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20.07.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Quando distanciar-me das altas
nuvens, onde sempre habitei,
devo levar algumas delas
para que saibam minha pátria.
Após soltar de espaço a espaço
as cascas vivas da memória,
devo levar para a cidade
o corpo, esta palavra forte.
Só meu corpo vai realmente
pisar nos jardins e nos pátios
e com mãos novas sacudir
as grandes árvores por perto.
Vou conduzi-lo com o cuidado
de livro muito alvo na tarde:
É minha única esperança
de estar bem vivo entre vocês.
Só meu corpo sabe virar
todas as páginas do tempo
e só ele foi publicado
completo, para ser seguido.
Alberto Cunha Melo, Poesia completa
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19.07.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
NÃO GOSTO tanto
como Mallarmé
parece que gostava
eu não sou um livro
e quando me dizem
gosto muito dos seus livros
gostava de poder dizer
como o poeta Cesariny
olha
eu gostava
é que tu gostasses de mim
os livros não são feitos
de carne e osso
e quando tenho
vontade de chorar
abrir um livro
não me chega
preciso de um abraço
mas graças a Deus
o mundo não é um livro
e o acaso não existe
no entanto gosto muito
de livros
e acredito na Ressurreição
de livro e acredito que no Céu
haja bibliotecas
e se possa ler e escrever
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18.07.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
É por dentro de um homem que se ouve
o tom mais alto que tiver a vida
a glória de cantar que tudo move
a força de viver enraivecida.
Num palácio de sons erguem-se as traves
que seguram o tecto da alegria
pedras que são ao mesmo tempo as aves
mais livres que voaram na poesia.
Para o alto se voltam as volutas
hieráticas sagradas impolutas
dos sons que surgem rangem e se somem.
Mas de baixo é que irrompem absolutas
as humanas palavras resolutas.
Por deus não basta. É mais preciso o Homem.
Ary dos Santos, in ‘O Sangue das Palavras’
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15.07.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Deu agora meio-dia; o sol é quente
Beijando a urze triste dos outeiros.
Nas ravinas do monte andam ceifeiros,
Na faina, alegres, desde o sol nascente.
Cantam as raparigas meigamente.
Brilham os olhos negros, feiticeiros.
E há perfis delicados e trigueiros
Entre as altas espigas d’oiro ardente.
A terra prende aos dedos sensuais
A cabeleira loira dos trigais
Sob a bênção dulcíssima dos céus.
Há gritos arrastados de cantigas…
E eu sou uma daquelas raparigas…
E tu passas e dizes: «Salve-os Deus!»
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14.07.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Será assim, amiga: um certo dia
Estando nós a contemplar o poente
Sentiremos no rosto, de repente
O beijo leve de uma aragem fria.
Tu me olharás silenciosamente
E eu te olharei também, com nostalgia
E partiremos, tontos de poesia
Para a porta de treva aberta em frente.
Ao transpor as fronteiras do Segredo
Eu, calmo, te direi: – Não tenhas medo
E tu, tranquila, me dirás: – Sê forte.
E como dois antigos namorados
Noturnamente triste e enlaçados
Nós entraremos nos jardins da morte.
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13.07.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Há cidades acesas na distância,
Magnéticas e fundas como luas,
Descampados em flor e negras ruas
Cheias de exaltação e ressonância.
Há cidades acesas cujo lume
Destrói a insegurança dos meus passos,
E o anjo do real abre os seus braços
Em nardos que me matam de perfume.
E eu tenho de partir para saber
Quem sou, para saber qual é o nome
Do profundo existir que me consome
Neste país de névoa e de não ser.
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11.07.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Corpo num horizonte de água, corpo aberto
à lenta embriaguez dos dedos, corpo defendido pelo
fulgor das maçãs,
rendido de colina em colina, corpo amorosamente
humedecido pelo sol dócil da língua.
Corpo com gosto a erva rasa de secreto jardim,
corpo onde entro em casa, corpo onde me deito
para sugar o silêncio, ouvir
a
música das espigas, respirar
a doçura escuríssima das silvas.
Corpo de mil bocas,
e todas fulvas de alegria,
todas para sorver,
todas para morder até que um grito irrompa das
entranhas
e
suba às torres,
e suplique um punhal.
Corpo para entregar às lágrimas.
Corpo para morrer.
Corpo para beber até ao fim – meu oceano breve
e branco,
minha secreta embarcação, meu vento favorável,
minha vária e sempre incerta navegação.
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08.07.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
O meu Eu, deixei-o abandonado
P’los caminhos da Dor e da Ilusão.
Sou um cego, sem guia nem bordão…
Um farrapo aos ventos atirado.
Todos os sonhos bons que hei sonhado
Queimaram-se na chama da Paixão…
E onde havia, outrora, um coração
Há um abismo sem fundo de pecado.
Entre o que fui e o que sou, a cada instante,
Há em mim uma luta fatigante
Que a minha alma gasta não suporta…
Na ânsia de encontrar-ME (vão intento!),
Meus dias vou gastando, num tormento,
A procurar de MIM, de porta em porta!…
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07.07.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Ela chorava muito e muito, aos cantos,
Frenética, com gestos desabridos;
Nos cabelos, em ânsias desprendidos,
Brilhavam como pérolas os prantos.
Ele, o amante, sereno como os santos,
Deitado no sofá, pés aquecidos,
Ao sentir-lhe os soluços consumidos,
Sorria-se cantando alegres cantos.
E dizia-lhe então, de olhos enxutos:
— Tu pareces nascida de rajada,
Tens despeitos raivosos, resolutos;
Chora, chora, mulher arrenegada;
Lacrimeja por esses aquedutos…
Quero um banho tomar d’água salgada.
Porto, Diário da Tarde, 21 de Janeiro de 1874
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06.07.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
A Lua tece rendas de Bretanha
com linhas de luar, fibras de lírios,
enquanto amortalhadas em martírios
choram as coisas numa língua estranha.
A Noite é o fantasma que se entranha
na nossa própria alma entre delírios;
e as estrelas no Céu são como círios
a iluminar o Templo da Montanha.
Perpassa o Vento, a pobre alma penada
no mundo há tanto tempo condenada
p’lo crime de rasgar o arvoredo.
Na Noite há um silêncio-catedral.
A Lua estende um manto oriental
e a Vida é o sinónimo de Medo.
José Gomes Ferreira
De «Lírios do Monte», 1918
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05.07.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
“Desconfie do mais trivial
na aparência do singelo
examine sobretudo
o que parece habitual.
Suplico expressamente
não aceite o que é de hábito
como coisa natural.
Pois em tempos de desordem
sangrenta
de confusão organizada
de arbitrariedade consciente
de humanidade desumanizada
nada deve parecer natural
ou impossível de mudar.”
Bertolt Brecht (1898-1956)
Leituras Livres
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27.05.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Este é o poema duma macieira.
Quem quiser lê-lo,
Quem quiser vê-lo,
Venha olhá-lo daqui a tarde inteira.
Floriu assim pela primeira vez.
Deu-lhe um sol de noivado,
E toda a virgindade se desfez
Neste lirismo fecundado.
São dois braços abertos de brancura;
Mas em redor
Não há coisa mais pura,
Nem promessa maior.
Vila Nova, 4 de Abril de 1936
in Diário I
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26.05.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Lentos nos fomos esquecendo. Quando
o tempo da velhice nos foi vindo
a tez apareceu amorenada de anos
e afeita ao espírito.
A lavoura sabia aos nossos passos.
Até os desperdícios
iluminavam debilmente o armário
e a penumbra dos rincões escritos.
Mas nós só estávamos
em nos havermos esquecido.
Ou, às vezes, a aura do trabalho
quase fazia com que na mesa o sítio
aparecesse coroado de anos
sobre a mão a mover-se pelo seu próprio espírito.
Fernando Echevarría, in “Figuras”
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25.05.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
A Lua tece rendas de Bretanha
com linhas de luar, fibras de lírios,
enquanto amortalhadas em martírios
choram as coisas numa língua estranha.
A Noite é o fantasma que se entranha
na nossa própria alma entre delírios;
e as estrelas no Céu são como círios
a iluminar o Templo da Montanha.
Perpassa o Vento, a pobre alma penada
no mundo há tanto tempo condenada
p’lo crime de rasgar o arvoredo.
Na Noite há um silêncio-catedral.
A Lua estende um manto oriental
e a Vida é o sinónimo de Medo.
José Gomes Ferreira
De «Lírios do Monte», 1918
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24.05.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Jardim em flor, jardim de impossessão,
Transbordante de imagens mas informe.
Em ti se dissolveu o mundo enorme,
Carregado de amor e solidão.
A verdura das árvores ardia,
O vermelho das rosas transbordava.
Alucinado cada ser subia
Num tumulto em que tudo germinava.
A luz trazia em si a agitação
De paraísos, deuses e de infernos,
E os instantes em ti eram eternos
De possibilidade e suspensão.
Mas cada gesto em ti se quebrou, denso
Dum gesto mais profundo em si contido,
Pois trazias em ti sempre suspenso
Outro jardim possível e perdido.
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23.05.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Outros terão
Um lar, quem saiba, amor, paz, um amigo.
A inteira, negra e fria solidão
Está comigo.
A outros talvez
Há alguma coisa quente, igual, afim
No mundo real. Não chega nunca a vez
Para mim.
«Que importa?»
Digo, mas só Deus sabe que o não creio.
Nem um casual mendigo à minha porta
Sentar-se veio.
«Quem tem de ser?»
Não sofre menos quem o reconhece.
Sofre quem finge desprezar sofrer
pois não esquece.
Isso até quando?
Não sei. Só tenho consolação
Que os olhos se em vão acostumando
À escuridão.
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20.05.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Podes mudar de nome, carrajola
pôr umas asas brancas, arvorar
um ar contrito,
dizer que não, que não foi contigo,
disfarçar-te de andorinha, de sobreiro
ou de velhinha,
podes mudar de nome, carrajola,
de aldeia, de vila ou de cidade
— és como um percevejo num lençol!
Quando tivermos Portugal nos braços
e pudermos amá-lo sem sofrer,
quando o Alentejo se puser a rir,
Catarina Eufémia, minha irmã,
então o teu filho há-de nascer!
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18.05.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Eu temo muito o mar, o mar enorme,
Solene, enraivecido, turbulento,
Erguido em vagalhões, rugindo ao vento;
O mar sublime, o mar que nunca dorme.
Eu temo o largo mar, rebelde, informe,
De vítimas famélico, sedento,
E creio ouvir em cada seu lamento
Os ruídos dum túmulo disforme.
Contudo, num barquinho transparente,
No ser dorso feroz vou blasonar,
Tufada a vela e nágua quase assente,
E ouvindo muito ao perto o seu bramar,
Eu rindo, sem cuidados, simplesmente,
Escarro, com desdém, no grande mar!
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17.05.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Persegue-me na noite a voz do impossível,
Rebentam-me aos ouvidos as ampolas de sangue.
Avanço devagar para a hidra intangível
Que dorme no horizonte do lado do levante.
Fascinam-me o mistério do seu rosto sem nome,
O muro de silêncio que a separa de mim,
A jornada no escuro, os perigos, os escombros,
As barreiras de sombra a que vou pondo fim.
Avanço devagar para a hidra que dorme
O seu sono latente na véspera de mim.
E percorro países como esqueço palavras
E atravesso rios como desprezo leis
E pairo nas alturas com as costas voltadas
Aos séculos de pasmo que para trás deixei.
Avanço devagar para a hidra que dorme
O seu sono de pedra num abismo sem fundo.
É a hora em que a terra não gira,
Em que o vento não corre.
É o tempo do homem descobrir o mundo.
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16.05.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Erguei o nosso ser à transparência
Para podermos ler melhor a vida
Para entendermos vosso mandamento
Para que venha a nós o vosso reino
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
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13.05.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Escrever um poema,
é como apanhar um peixe,
com as mãos
nunca pesquei assim um peixe,
mas posso falar assim!
sei que nem tudo o que vem às mãos,
é peixel
o peixe debate-se,
tenta escapar-se
escapa-se,
eu persisto,
luto corpo a corpo,
com o peixel
ou morremos os dois,
ou nos salvamos os dois |
tenho de estar atental
tenho medo de não chegar ao fiml
é uma questão de vida ou de mortel
quando chego ao fim,
descubro que precisei de apanhar o peixe,
para me livrar do peixel
livro-me do peixe com o alívio,
que não sei dizer
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12.05.2022 | Produção e voz: Luís Gaspar
Filhos dum deus selvagem e secreto
E cobertos de lama, caminhamos Por cidades,
Por nuvens
E desertos.
Ao vento semeamos
O que os homens não querem.
Ao vento arremessamos
As verdades que doem
E as palavras que ferem.
Da noite que nos gera, e nós amamos,
Só os astros trazemos.
A treva ficou onde
Todos guardamos a certeza oculta
Do que nós não dizemos.
Mas que somos.
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