Ana Paula Lavado – “Nenhum verso…”
10.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Arredondou a barriga da mãe há 51 anos. O sol de Angola brilhou à sua chegada. Já roída pela saudade voltou a Portugal. Como muitos... como muitos... Deambulou, buscando poiso. Encontrou-o no local onde o Cávado enche a barriga do mar. Em Esposende amou, teve 4 filhos e maturou as palavras. Perdeu... cresceu...chegou à idade da madureza. Em 2007 lançou "Vozes do Vento". Talvez atordoada com as rajadas do vento norte,Encantada pela suave modorra das águas prateadas do rio,Dois mil e oito aparece-nos com as palavras aguareladas pelo Henrique do Vale.Esta Mulher, Mãe, Amante, Poeta, é Ana Paula Lavado. (Palavras da autora)
10.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Nenhum verso fala de mim
nem do que eu penso
nem do que eu sinto
nem do que eu sou.
Na realidade,
as palavras são apenas
um jogo de letras
mais ou menos cinzelado
ao gosto de cada um.
E poucos, muito poucos
fazem delas seres vivos e humanos.
Eu não lhes dou vida.
Trabalho-as com mais ou menos nexo
ou talvez sem nexo,
porque dele não sinto falta
nem faz falta o que sou!
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10.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Hoje já não pergunto porque não voltas.
Apresso-me apenas para chegar a destino nenhum
e apagar as luzes que te vestiram.
Depois permaneço deste lado do palco. Este lado
que se mantém inalterável e escuro, onde a vida
não é mais que um reflexo isento de espelhos.
Quisera ter-te… mas não passei de um adereço
dispensável na representação.
Resta-me apenas o cenário onde ainda te revejo
e vou confundindo a realidade para que o sonho
não se suicide.
De alma nua, amo apenas o mar que nos uniu
e odeio o mar que nos afastou.
Havíamos ficado, noites inteiras depois de um brinde
onde jurámos eternidade. Perdidos no riso
ou exaustos na paixão, deixámos vazios, todos os cálices
daquele Porto que escolhias por amor.
As horas morriam no silêncio dos nossos corpos
emudecidos de prazer, numa cama
que ficou gravada pelas nossas mãos.
Se a morte chegasse, pediria apenas um cálice
de Porto dourado. E morreria bebendo cada beijo teu!
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10.04.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Vem devagar sobre meu leito
Entrega tuas mãos ao meu corpo
E desfolha-me lentamente
Numa doçura desdobrada.
Desliza entre o meu ventre
E navega entre pétalas cerradas
Onde o silêncio em vertigem
Me faz em água dilacerada.
E no desejo anoitecido
Adurirei o beijo da tua boca
Na minha boca queimada!
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