A Demanda do Santo Graal
03.02.2014 | Produção e voz: Luís Gaspar
A primeira página de grandes obras da literatura.
03.02.2014 | Produção e voz: Luís Gaspar
Em língua portuguesa medieval se preserva um manuscrito da Demanda do século XV, resultado de uma adaptação do texto francês da Post-Vulgata. A obra é uma das mais importantes da prosa novelística da literatura medieval portuguesa. O texto original em francês da Demanda não foi preservado intacto, e o manuscrito português tem importância excepcional por ser o mais completo entre todas as versões da Post-Vulgata existentes.
Atualmente o manuscrito sobrevive numa cópia do século XV preservada na Biblioteca Nacional de Viena. Indícios históricos e linguísticos no texto indicam que a tradução original foi feita ainda no século XIII, durante o reinado de Afonso III. A versão portuguesa foi utilizada como fonte para a versão em castelhano da Demanda, atualmente preservada numa edição já renascentista, do século XVI.
(Wikipédia)
Véspera de Pentecostes, houve muita gente reunida em Camalote, de tal modo que se pudera ver muita gente, muitos cavaleiros e muitas mulheres de muito bom parecer. O rei, que estava por isso muito alegre, honrou-os muito e fez servi-los muito bem e toda coisa que entendeu
que tornaria aquela corte mais satisfeita e mais alegre, tudo mandou fazer.
Aquele dia que vos digo, exactamente quando queriam pôr as mesas — isto era hora de noa —, aconteceu que uma donzela chegou muito formosa e muito bem vestida; e entrou no paço a pé, como mensageira. Ela começou a procurar de uma parte e de outra pelo paço; e pergunta-ram-lhe o que buscava.
– Busco, disse ela, Dom Lancelote do Lago. Está aqui?
– Sim, donzela, disse um cavaleiro. Vede-o: está naquela janela falando com Dom Galvão.
Ela foi logo para ele e saudou-o. Ele, assim que a viu, recebeu-a muito bem e abraçou-a, porque aquela era uma das donzelas que moravam na ilha da Lediça a quem a filha Amida do rei Peles amava mais que a donzela da sua companhia.
– Ai, donzela! disse Lancelote, que ventura vos trouxe aqui? Que bem sei que sem razão não viestes.
– Senhor, verdade é; mas rogo-vos, se vos aprouver, que vades comigo àquela floresta de Camalote; e sabei que amanhã, à hora de comer, estareis aqui.
- Certamente, donzela, disse ele, muito me agrada, pois tenho obrigação de vos servir em tudo que puder.
Então pediu suas armas. E quando o rei viu que se fazia armar com tanta pressa, dirigiu-se a ele com a rainha e disse-lhe:
- Como? Deixar-nos quereis em tal festa, quando cavaleiros de todo o mundo vêm à corte, e muito mais ainda por vos verem que por outro motivo: uns para vos verem, e outros por terem vossa companhia?
- Senhor, disse ele, não vou senão a esta floresta, com esta donzela que me pediu, mas amanhã, à hora de terça, estarei aqui.
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