Nota biográfica

Álvaro de Campos (Tavira ou Lisboa, 13 ou 15 de Outubro de 1890 — ?) é um dos heterónimos mais conhecidos de Fernando Pessoa. Era um engenheiro de educação inglesa e origem inglesa, mas sempre com a sensação de ser um estrangeiro em qualquer parte da África.

Álvaro de Campos – “Soneto já antigo”

08.07.2013 | Produção e voz: Luís Gaspar

Olha, Daisy: quando eu morrer tu hás-de
Dizer aos meus amigos aí de Londres,
Embora não o sintas, que tu escondes
A grande dor da minha morte. Irás de

Londres p’ra York, onde nasceste (dizes…
Que eu nada que tu digas acredito),
Contar àquele pobre rapazito
Que me deu tantas horas tão felizes,

Embora não o saibas, que morri…
Mesmo ele, a quem eu tanto julguei amar,
Nada se importará… Depois vai dar

A notícia a essa estranha Cecily
Que acreditava que eu seria grande…
Raios partam a vida e quem lá ande!

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José Agostinho de Macedo – “Soneto”

06.07.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

José Agostinho de Macedo (Beja, 11 de Setembro de 1761 — Lisboa, 2 de Outubro de 1831) foi um escritor português. Escritor de estilo polêmico e agressivo, era adepto fervoroso do miguelismo. Escreveu sobre a maçonaria no livro Morais dos pedreiros livres e iluminados (1816).

Debaixo desta campa sepultado
Jaz um peito, um que etéreo fogo ardia,
Que da Lusa Eloquência, e da Poesia
Será por longos Evos lamentado.

Deixou à Pátria alto Padrão alçado,
Enfeitando co’ as flores a Harmonia
A austera fronte à sã Filosofia,
Com exemplo entre nós não praticado.

Não indagues, Viandante curioso,
Da larga vida sua erro, ou defeito,
Da Morte acata o manto tenebroso.

Ele Homem foi, Homem não há perfeito;
E, deixando este valer lacrimoso,
Foi piedade buscar de Deus no peito.

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Luiza Neto Jorge – “Soneto”

16.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

A silabar que o poema é estulto
o amado abre os dentes e eu deslizo;
sismos, orgasmos tremem-lhe no olhar
enquanto eu, quase a rimar, exulto.

Conheço toda a terra só de amar:
sem nós e sem desvãos, um corpo liso.
Tenho o mênstruo escondido num reduto
onde teoricamente chega o mar.

Nos desertos – íntimos, insuspeitos –
já caem com a calma as avestruzes
– ou a distância, com o oásis, finda;

à medida que nos arcaicos leitos
se vão molhando vozes e alcatruzes
ao descerem ao fundo pego, e à vinda

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António Botto – “Soneto”

08.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Se, para possuir o que me é dado,
Tudo perdi e eu próprio andei perdido,
Se, para ver o que hoje é realizado,
Cheguei a ser negado e combatido.

Se, para estar agora apaixonado,
Foi necessário andar desiludido,
Alegra-me sentir que fui odiado
Na certeza imortal de ter vencido!

Porque, depois de tantas cicatrizes,
Só se encontra sabor apetecido
Àquilo que nos fez ser infelizes!

E assim cheguei à luz de um pensamento
De que afinal um roseiral florido
Vive de um triste e oculto movimento

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Século de Ouro Espanhol – “Soneto”

08.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

À beira d’água estando certo dia, 

descuidada, uma dama primorosa, 

de mirar seu inferno desejosa 

e vendo-se ali só, sem companhia,

a saia ergueu, que vê-lo lhe impedia 

e, feliz de ver coisa tão preciosa,

disse, com doce voz de quem se goza,

e que de dentro d’alma lhe saía:

“Por vós eu sou de tantos requestada, 

por vós me dão colares e pulseira, 

sapatos, saia e manto para o frio.

“Um beijo quero dar-vos” e baixada 

para o dar escorregou na beira 

e de cabeça despencou no rio.

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062 – O soneto

07.10.2006 | Produção e voz: Luís Gaspar

Este é um programa dedicado ao soneto.
Há algumas semanas e na sequência das minhas aventuras nas livrarias, referi a descoberta de uma colecção da Terramar muito interessante e que vem mesmo a calhar para o formato deste podcast. Refiro-me à edição de, pelo menos quatro livros, organizados pelos poetas José Fanha e José Jorge Letria. Que eu saiba são apenas quatro livros mas se há mais nesta colecção, senhores da Terramar façam o favor de me dizer qualquer coisinha que eu me encarregarei de avisar a malta.

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