Nota biográfica

Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque. (Benguela, Angola, 9.6.1930 - Cambambe, Angola, 30.1.1962). Era casada com o escritor Orlando Albuquerque. Muito nova veio para Lisboa onde concluiu o 7º ano do Liceu. Frequentou as Faculdades de Medicina de Lisboa e Coimbra, licenciando-se por esta última.

Alda Lara – “Noite 1948” Outubro (Poemas 1966)

08.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Noites africanas langorosas,
esbatidas em luares…,
perdidas em mistérios…
Há cantos de tungurúluas pelos ares!…

Noites africanas endoidadas,
onde o barulhento frenesi das batucadas,
põe tremores nas folhas dos cajueiros…

Noites africanas tenebrosas…,
povoadas de fantasmas e de medos,
povoadas das histórias de feiticeiros
que as amas-secas pretas,
contavam aos meninos brancos…

E os meninos brancos cresceram,
e esqueceram
as histórias…

Por isso as noites são tristes…
Endoidadas, tenebrosas, langorosas,
mas tristes… como o rosto gretado,
e sulcado de rugas, das velhas pretas…
como o olhar cansado dos colonos,
como a solidão das terras enormes
mas desabitadas…

É que os meninos brancos…,
esqueceram as histórias,
com que as amas-secas pretas
os adormeciam,
nas longas noites africanas…

Os meninos-brancos… esqueceram!…

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Alda Lara – “Prelúdio”

08.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra, desce com ela…

Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guizos,
nas suas mãos apertadas.

Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.

Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro…
Tem voz de noite, descendo,
de mansinho, pela estrada…
Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?…
Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?…
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?…

Mãe-Negra não sabe nada…
Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo
Mãe-Negra!…

É que os meninos cresceram,
e esqueceram
as histórias
que costumavas contar…
Muitos partiram pra longe,
quem sabe se hão-de voltar!…

Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta bem calada.

É a tua a voz deste vento,
desta saudade descendo,
de mansinho pela estrada…

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