Nota biográfica

Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, (São Martinho de Anta, 12 de Agosto de 1907 — Coimbra, 17 de Janeiro de 1995) foi um dos mais importantes poetas e escritores portugueses do século XX. Destacou-se como poeta, contista e memorialista, mas escreveu também romances, peças de teatro e ensaios.

Miguel Torga – “Negrura”

17.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Neste dia sem luz que me anoitece,
Que me sepulta inteiro,
Até de mim a minha dor se esquece
Para que eu seja um morto verdadeiro.

Chove tristeza fria no telhado
Do castelo do sonho; nua, nua
A calçada que subo, já cansado
De tanto andar perdido nesta rua.

Duma olaia caiu, morta, amarela,
Qualquer coisa que foi princípio e fim;
E bem olhada, bem pensada, é ela
Aquela folha que lutou por mim…

Sozinho e morto ouço cantar alguém,
Mas é longe de mais a melodia…
E o ouvido que vai nunca mais vem
Trazer me a luz que falta no meu dia.

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