Luis Filipe Castro Mendes – “A Eugénio de Andrade depois de ler…”
11.12.2015 | Produção e voz: Luís Gaspar
Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas (Póvoa de Atalaia, 19 de Janeiro de 1923 — Porto, 13 de Junho de 2005). Apesar do seu enorme prestígio nacional e internacional, Eugénio de Andrade sempre viveu distanciado da chamada vida social, literária ou mundana, tendo o próprio justificado as suas raras aparições públicas com «essa debilidade do coração que é a amizade».
11.12.2015 | Produção e voz: Luís Gaspar
A Eugénio de Andrade depois de ler “Os lugares do Lume”
Entre os lugares do lume acontecia que
a tua voz as músicas movia
e era outra paisagem de repente a
levantar-se como sarça ardente,
como se os prisioneiros da linguagem se
tornassem só lume, só passagem
e na terra que foi melancolia
ardesse a voz inteira da poesia.
(Mas nos lugares do lume que disseste
um pur si muove brilha e aparece.)
Poema de Luís Filipe Casreo Mendes, ilustração de Francisco Simões, ambos retirados do livro “Aproximações a Eugénio de Andrade”, editado pela ASA com o patrocínio a BIAL, coordenação de José da Cruz Santos e Direção gráfica de Armando Alves.
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19.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Numa casa de vidro te sonhei.
Numa casa de vidro me esperavas.
Num poço ou num cristal me debrucei.
Só no teu rosto a morte me alcançava.
De quem a morte, por terror de mim?
De quem o infinito que faltava?
Numa casa de vidro vi meu fim.
Numa casa de vidro me esperavas.
Numa casa de vidro as persianas
desciam lentamente e em seu lugar
a noite abria o escuro das entranhas
e o teu rosto morria devagar.
Numa casa de vidro te sonhei.
Numa casa de vidro me esperavas.
Fiz do teu corpo sonho e não olhei
nas palavras a morte que guardavas.
Descemos devagar as persianas,
deixámos que o amor nos corroesse
o íntimo da casa e as estranhas
cerimónias do dia que adoece.
Numa casa de vidro. Num espelho.
Na memória, por vezes amargura,
por vezes riso falso de tão velho,
cantar da sombra sobre a selva escura.
Numa casa de vidro te sonhei.
No vazio dessa casa me esperavas.
Luís Filipe Castro Mendes, in “Os Amantes Obscuros”
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