Nota biográfica

Trovadorismo, também conhecido como Primeira Época Medieval, é o primeiro movimento literário da língua portuguesa. Seu surgimento ocorreu no mesmo período em que Portugal começou a despontar como nação independente, no século XII; porém, as suas origens deram-se na Occitânia, de onde se espalhou por praticamente toda a Europa. Apesar disso, a lírica medieval galego-português possuiu características próprias, uma grande produtividade e um número considerável de autores conservados.

D. Dinis – “Ai, flores”

18.05.2014 | Produção e voz: Luís Gaspar

Português moderno

Ai flores, ai flores do verde pinho,
Se sabedes novas do meu amigo!
Ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
Se sabedes novas do meu amado!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo
Aquel que mentiu do que pôs comigo!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
Aquel que mentiu do que mi á jurado!
Ai Deus, e u é?
Vós me perguntades polo voss’ amigo,
E eu ben vos digo que é san’e vivo.
Ai Deus, e u é?
Vós me perguntades polo voss’ amado,
E eu ben vos digo que é viv’e sano.
Ai Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é san’ e vivo
E será vosso ante o prazo saído.
Ai Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é viv’ e sano
E será vosso antes o prazo passado.
Ai Deus, e u é?

Português antigo

As flores, ay flores, do uerde pinho,
se sabedes nouas do meu amigo!
ay Deus, e hu é?
Ay flores, ay flores do uerde ramo,
se sabedes nouas do meu amado!
ay Deus, e hu é?
Se sabedes nouas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
ay Deus, e hu é?
Se sabedes nouas do meu amado,
aquel que mentiu do que mh-á iurado!
ay Deus, e hu é?
Vós me preguntades polo uoss’ amigo,
e eu ben uos digo que é san’ e uiuo:
ay Deus, e hu é?
Vós me preguntades polo uoss’ amado,
e eu ben uos digo que é uiu’ e sano :
ay Deus, e hu é?
E eu ben uos digo que é san’ e uiuo
e seerá vose’ant o prazo saydo:
ay Deus, e hu é?
B eu ben uos digo que ê uiu’ e sano
e seerá vose’ant’ o prazo passado:
ay Deus, e hu é?

A adaptação ao Português moderno foi de Deana Barroqueiro. Este poema faz parte da “Coletânea de Poesia Portuguesa – I volume – Poesia Medieval”, disponível no iTunes – https://itunes.apple.com/pt/book/coletanea-poesia-portuguesa/id554261638?mt=11

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Fernando Pessoa – “Ai, que prazer…”

15.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente
matinal,
Como tem tempo não tem pressa…

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião, Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca.

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Álvares de Azevedo – “Ai, Jesus! “

08.01.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar

Álvares de Azevedo [Brasil,1831-1852.]

Ai, Jesus! Não vês que gemo, 

Que desmaio de paixão 

Pelos teus olhos azuis? 

Que empalideço, que tremo, 

Que me expira o coração?
Ai, Jesus!

Que por um olhar, donzela, 

Eu poderia morrer 

Dos teus olhos pela luz? 

Que morte! Que morte bela! 

Antes seria viver! 

Ai, Jesus!

Que por um beijo perdido 

Eu de gozo morreria 

Em teus níveos seios nus? 

Que no oceano dum gemido

Minh’ alma se
afogaria? 

Ai, Jesus!

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