Nota biográfica >>

Os textos apresentados nesta página foram publicados e copiados do livro "Rosa do Mundo - 2001 poemas para o futuro" editado pela Assírio & Alvim com direcção editorial de Manuel Hermínio Monteiro. A música que serve de fundo a estes textos é de autoria de Luís Pedro Fonseca e amavelmente cedida ao Estúdio Raposa.

“As Mulheres dos Astros”

15.05.2012

Canadá – Povo Snuqualmi

Quando a terra era ainda jovem e com poucas plantas, não existia nem sol nem lua: reinava um claro-escuro eterno, e os homens e animais falavam a mesma língua. Duas mulheres, ocupadas a extrair do solo raízes comestíveis, discutiram certa vez para decidir se era melhor casar com pescadores ou com caçadores, e se as raízes que colhiam ficariam mais apetitosas com carne ou com peixe. Finalmente, desejaram casar com estrelas. Assim fizeram; mudaram-se para o céu com os seus novos maridos; estes traziam-lhes muita caça.
O mundo celeste assemelhava-se à terra, excepto no facto de o vento, a tempestade e a chuva serem aí desconhecidos. Os homens-estrelas permitiram às suas esposas continuar a extrair raízes com a condição de elas não cavarem muito fundo. A mais velha deu à luz um filho a que chamou Lua. Como as duas mulheres se aborreciam, decidiram violar a interdição e fizeram um buraco no manto celeste: o vento entrou no mundo celeste pelo orifício, e elas viram a sua terra natal em baixo.
As mulheres confeccionaram uma longa escada de corda e fugiram. Quando chegaram à aldeia, os aldeãos saudaram-nas, e todos
quiseram ir ver a escada celeste. Por brincadeira, fizeram um baloiço monumental que oscilava de uma montanha a outra, do norte ao sul, e do sul ao norte. Arrastando-se pelo chão, a extremidade da escada cavou as ravinas que existem hoje.
No meio da festa, a mulher que tinha tido o filho confiou-o à guarda de um sapo fêmea velha e cega. Mas as mulheres-salmão raptaram-no. Quando os aldeãos se aperceberam do rapto, deixaram imediatamente a brincadeira do baloiço para procurarem a criança. O rato ficou sozinho junto ao baloiço; roeu a corda e o baloiço caiu, formando um grande rochedo, que ainda hoje existe no vale do rio Snuqualmi.
Depois de diversas tentativas, o gaio-azul conseguiu voar sobre uma enorme muralha, cortada horizontalmente em dois, e cujas metades quase batiam uma na outra; esta muralha impedia o acesso à terra dos mortos, onde vivia a criança Lua, que entretanto tinha crescido. Lua prometeu regressar para junto dos seus; tornou-se célebre devido aos prodígios que realizava, tais como a criação de rios e de montanhas, a diferenciação dos animais, a invenção do fogo, a destruição dos monstros… Por fim, tornou-se na lua.

Trad.: Manuel João Ramos

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