Nota biográfica >>

Os textos apresentados nesta página foram publicados e copiados do livro "Rosa do Mundo - 2001 poemas para o futuro" editado pela Assírio & Alvim com direcção editorial de Manuel Hermínio Monteiro. A música que serve de fundo a estes textos é de autoria de Luís Pedro Fonseca e amavelmente cedida ao Estúdio Raposa.

Lenda – “O Urso e o Tigre”

10.07.2012

Origem: Coreia

Quando a terra e o céu ainda não eram dois, quando os animais podiam falar como os humanos, um espírito divino chamado Hwan-in, rei dos céus orientais, governava essa parte da terra onde nasce a cada dia a manhã. Nesses tempos áureos moravam ainda cinco monstros nos quatro cantos da terra; o Dragão Azul sobre o Oriente, o Tigre Branco a Ocidente, a Fénix Vermelha no Sul e a Tartaruga e a Serpente no Norte. O rei enviou o seu filho Hwang-ung para Oriente e deu-lhe ordens para que lá construísse um novo reino.
Hwang-ung desceu sobre a terra acompanhado de três Grandes Espíritos Divinos: o Professor, criador das nuvens, o General, condutor dos ventos, e o Governador, gestor das chuvas. Outros três mil espíritos desceram à terra e Hwang-ung fê-los reunir em torno de uma grande árvore que descansava sobre o cume de uma montanha ainda maior. Fundaram aí uma nova nação que Hwang-ung governaria a partir de Shinshi, a cidade celeste que o vira crescer desde tempos imemoriais. Era um rei justo e sensato. A população vivia alegremente e a nação prosperava.
Não muito longe de Shinshi, numa gruta enorme junto a T’aebaek-san, viviam pacificamente um urso e um tigre da Sibéria. Dormitando, uma vez sobre as ervas da montanha, o urso e o tigre conversaram, não sem alguma inveja, sobre a prosperidade da nação de Hwang-ung e da raça humana que aí nascera. «Como desejava ser um homem e um fiel súbdito de Hwang-ung», confessou o urso. O tigre concordou e sugeriu então que se dirigissem ao próprio Hwang-ung e que a ele pedissem conselho. O rei disse-lhes que teria todo o prazer em recebê-los no seu reino, mas disse também que, para se tornarem homens, teriam de sobreviver a uma dura e paciente provação. Deveriam assim comer vinte dentes de alho cada um e com eles sobreviver a cem dias de reclusão no interior da sua gruta. Caso o conseguissem, tornar-se-iam homens com a bênção do rei.
O tigre e o urso aceitaram o desafio, mas sendo animais selvagens, habituados a vaguear livremente pelas montanhas, não tardou que a reclusão se lhes tornasse insuportável.
A sua força de vontade decaía e ao vigésimo dia, o tigre perdeu definitivamente a paciência que o rei lhes aconselhara. O urso ainda pediu ao tigre que se concentrasse no seu objectivo e que esquecesse a fome, mas de nada valeu. Esfomeado, o tigre abandonou a gruta em busca de alimento e é, desde então, o maior inimigo do homem sobre a terra. O urso, por seu turno, esforçou-se por resistir mais do que o seu amigo tigre. Lembrou-se do seu enorme desejo de se tornar humano e pensou para si mesmo que, estando ele habituado a hibernar, a tarefa até não seria tão difícil. Ao centésimo dia, ocorreu uma transformação maravilhosa; à medida que nascia a aurora, uma bela e formosa mulher emergiu da gruta escura e ofereceu-se, nua, ao ar fresco, onde ainda parecia mais bela.
Dirigiu-se aos céus e agradeceu a oferenda, seguindo para Shinshi, onde agradeceria ao rei a sua bênção. Deslumbrado com a sua nua beleza, o rei casou de imediato com Ung-yo, a-mulher-vinda-do-urso. Uniram-se junto à árvore de T’aebaek-san e aí veio à vida uma criança. Senhor das Árvores, a criança Tangun era o deus-homem que completava a divina trindade com Hawn-in, o deus-pai, e Hwang-ung, o espírito. Quando este último abandonou definitivamente a terra, Tangun expandiu o reino, ensinou ao seu povo as leis do deus-pai e tornou-se o primeiro rei da Coreia.

Trad.: Manuel João Magalhães

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