Bocage – “Se e doce no recente, ameno estio”
26.01.2015 | Produção e voz: Luís Gaspar
26.01.2015 | Produção e voz: Luís Gaspar
Se é doce no recente, ameno Estio Ver
toucar-se a manhã de etéreas flores, E,
lambendo as areias, e os verdores, Mole e
queixoso deslizar-se o rio:
Se é doce no inocente desafio Ouvirem-se os
voláteis amadores, Seus versos modulando, e
seus ardores De entre os aromas de pomar
sombrio:
Se é doce mares, céus ver anilados Pela
quadra gentil, de Amor querida, Que esperta
os corações, floreia os prados:
Mais doce é ver-te, de meus ais vencida, Dar-me
em teus olhos brandos desmaiados Morte,
morte de amor, melhor que a vida.
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14.01.2015 | Produção e voz: Luís Gaspar
Está criado
o novo mandamento. Aos pássaros
dirás: não cantareis; às flores,
não florireis. E florirão
as bombas. E morrerão
as pombas. E ao sangue
dirás: rio
serás. E sobre
os escombros erguerás
o homem novo, o seu cadáver, desenharás
a ferro e fogo o mapa
do luto e das lágrimas. E imporás,
enfim,
a liberdade. A liberdade
do terror e das armas. A liberdade
para matar.
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19.12.2014 | Produção e voz: Luís Gaspar
Aos fracos e aos covardes
não lhes darei lugar dentro
dos meus poemas. Covarde
já eu sou. Fraco, já o sou
demais, e se entre fracos
for me perderei também.
Quero é gente animosa que
olhe de frente a Vida, que
faça medo à Morte. Com
esses quero ir, a ver se me
convenço de que também
sou forte. Quero vencer os
medos… Vencer-me – que
sou poço de estúpidos
terrores, de feminis
fraquezas. Rir-me das
sombras, rir-me das velhas
ondas bravas, rir-me do
meu temor do que há-de
acontecer.
Venham comigo os fortes…
Façam-me ter vergonha
das minhas covardias. E de
seus actos façam (seus
actos destemidos)
chicotes prós meus nervos.
Ganhe o meu sangue a cor
das tardes das batalhas. E eu
vá – rasgue as cortinas que
velam o Porvir. Vá – jovem,
confiado, cumprindo o meu
destino de não ficar parado.
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15.12.2014 | Produção e voz: Luís Gaspar
Tudo o que existe em mim de grave e carinhoso
Te digo aqui como se fosse o teu ouvido…
Só tu mesma ouvirás o que aos outros não ouso
Contar do meu tormento obscuro e impressentido.
Em tuas mãos de morte, ó minha Noite escura!
Aperta as minhas mãos geladas. E em repouso
Eu te direi no ouvido a minha desventura
E tudo o que em mim há de grave e carinhoso.
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02.12.2014 | Produção e voz: Luís Gaspar
A exaltação do mínimo, e
o magnífico relâmpago do
acontecimento mestre
restituem-me a forma o meu
resplendor.
Um diminuto berço me recolhe
onde a palavra se elide na
matéria – na metáfora –
necessária, e leve, a cada um
onde se ecoa e resvala.
A magnólia,
o som que se desenvolve nela
quando pronunciada,
é um exaltado aroma
perdido na tempestade,
um mínimo ente magnífico
desfolhando relâmpagos sobre
mim.
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